A estagnação em que Portugal está enfiado há 25 anos tem as consequências económicas conhecidas: os salários crescem pouco e, com Portugal a afundar-se nos rankings da União Europeia, muitos jovens qualificados preferem ir trabalhar para outros países da União Europeia que lhes oferecem mais oportunidades. A estagnação também impede que o Estado tenha meios para melhorar muitos serviços públicos, da educação à saúde, passando pela justiça.
No entanto, há um efeito psicológico pernicioso quando a estagnação é duradoura, como é o nosso caso. Alguém que hoje esteja na casa dos 30 não se lembra do país com outra realidade que não a estagnação. Para muitas dessas pessoas, a estagnação não é um estado temporário, mas começa a ser vista como uma realidade permanente e inevitável. Esta sensação de que a estagnação é uma realidade permanente, e não uma situação temporária, pode desencadear um conjunto de reações psicológicas que depois alimentam a própria estagnação.
Numa realidade em que as pessoas sintam que o bolo ficará sempre do mesmo tamanho, o instinto imediato de quem vê alguém ficar melhor é sentir que, para tal ter acontecido, alguém teve de ficar pior – possivelmente, até o próprio. Quando um bolo não cresce, a única possibilidade de alguém ficar com uma fatia maior é outra pessoa ficar com uma fatia mais pequena. Da mesma forma, numa mentalidade afetada por décadas de estagnação, a entrada de pessoas pode ser vista por muitos como uma ameaça ao seu bem-estar. Se o país está estagnado, a vinda de novas pessoas só pode significar que quem já cá está terá menos daquilo que necessita (casas, empregos…). Esta mentalidade criada pela estagnação irá alimentar a própria estagnação no futuro. Quando quem cria valor não é compensado por isso, haverá menos pessoas a arriscar, investir e criar valor. Quando a entrada de novas pessoas que acrescentem valor à sociedade passa a ser vista como uma ameaça, entrarão menos pessoas e a sociedade perderá o valor que elas acrescentariam. A estagnação cria uma mentalidade de inveja e ressentimento que alimentará a estagnação no futuro.
A economia não é um jogo de soma nula. Quando alguém cria um negócio, esse negócio só terá sucesso se os clientes e trabalhadores beneficiarem dos seus produtos e dos empregos criados. Salvo práticas criminosas ou rentistas, nenhum empreendedor enriquece sem que a sua atividade também beneficie terceiros. Quanto mais pessoas enriquecerem à custa do seu trabalho e investimento, mais benefícios terão sido distribuídos por todos os outros. Da mesma forma que alguém que vá trabalhar ou investir para outro país só terá sucesso se o seu trabalho ou investimento for mais valorizado pelo país de destino do que o retorno que obtém. A economia é um jogo de soma positiva. Qualquer atividade económica que não seja criminosa ou rentista acrescenta valor a toda a economia. Quanto mais nos esquecermos disto, maior a probabilidade de nos eternizarmos na estagnação.
Deputado da IL
Artigo publicado na edição do NOVO de dia 9 de dezembro