A consultora Capital Economics considera que Angola e Moçambique são os países da África subsaariana com a dívida mais arriscada caso haja uma depreciação das moedas locais ou alterações significativas no contexto do comércio internacional.
“Angola ou Moçambique, com altos níveis de dívida em moeda estrangeira, são os que estão mais em risco de sobre-endividamento [debt distress, no original em inglês] caso haja uma deterioração do comércio internacional e ou um enfraquecimento da moeda”, lê-se numa atualização desta consultora sobre a evolução da dívida dos países da África subsaariana.
Com grande parte da dívida em moeda externa, estes dois países “serão vulneráveis quer a súbitos recuos no valor da moeda, quer alterações significativas nos termos do comércio internacional”, alertam os analistas.
Num relatório enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, os analistas da Capital Economics escrevem que “a média da dívida pública na África subsaariana ainda está acima dos níveis anteriores à pandemia.
A maioria destas economias, sustentam, vai precisar de mais ajustamentos orçamentais para estabilizar os rácios da dívida face ao Produto Interno Bruto” (PIB), que é um dos principais indicadores usados para aferir a sustentabilidade da dívida de um país.
A posição dos países africanos melhorou um pouco em 2022, face a 2021, “mas apenas uma pequena minoria tem um peso da dívida inferior ao registado antes da pandemia”, e ao contrário do que acontecia, nenhum país tem atualmente um rácio de dívida face ao PIB superior a 100%.
Angola, apontaram os analistas, “conseguiu reduzir em quase 40 pontos percentuais o seu rácio de dívida sobre o PIB entre 2019 e 2022”, devido não só à suspensão dos pagamentos da dívida ao abrigo das iniciativas internacionais neste sentido, mas também à valorização do kwanza e à saída da recessão económica, que fez aumentar o PIB e, consequentemente, descer o rácio.
“Ter uma grande percentagem da dívida denominada em moeda estrangeira é um risco fundamental para Moçambique e Angola, e também para países como a Zâmbia, que já entrou em incumprimento financeiro”, diz a Capital Economics, salientando que o simples facto de o kwanza se ter desvalorizado em cerca de 40% durante o segundo trimestre deste ano faz o rácio da dívida subir 25 pontos percentuais.
A dívida pública dos países africanos tem sido uma das principais preocupações dos economistas e das instituições internacionais nos últimos anos, não só pelo encarecimento do custos de novos empréstimos, por causa da subida das taxas de juros, mas também pelo espaço orçamental que ocupa, desviando investimento de áreas estruturais e deficitárias, como a saúde ou a educação, para além das infraestruturas básicas, e por propiciar medidas impopulares de ajustamento financeiro.
“Implementar medidas de austeridade vai ser desafiante; vários governos já recuaram nos esforços para controlar a despesa pública e implementar impostos; a inflação elevada aumentou os receios de que mais austeridade pode aumentar a agitação social”, diz a consultora britânica.
Os analistas referem ainda que as eleições do próximo ano na África do Sul, em Moçambique e no Gana “implica que o relaxamento orçamental pode ser adotado pelos governos para permanecerem no poder”.