Todos nós conhecemos as tendências dos políticos para tomarem decisões tendo em vista os benefícios de curto prazo, mesmo quando os custos de longo prazo superam largamente esses benefícios. A miopia de decisão, aliada a ciclos eleitorais curtos, faz com que muitas vezes se tomem decisões prejudiciais ao país no longo prazo.

No passado, essa miopia refletia-se demasiadas vezes na forma como os governos geriam a política monetária através dos bancos centrais. Imprimir mais dinheiro era sempre uma solução fácil para qualquer sobressalto económico. Imprimir dinheiro dava a ilusão momentânea de que as pessoas tinham mais poder de compra. Mas essa ilusão rapidamente desaparecia pela via do aumento de preços. Aumentos de preços cada vez maiores distorciam a economia e limitavam o seu crescimento. De repente, um conjunto de decisões que no curto prazo pareciam corretas transformavam-se num desastre de longo prazo.

Houve vários exemplos históricos de desastres que arruinaram a moeda e, por consequência, a economia de um país. Aquele mais conhecido – e com as consequências mais catastróficas que ainda hoje são lembradas – é o da República de Weimar. A República de Weimar enfrentou uma hiperinflação descontrolada, geralmente atribuída à interferência política no banco central, ajudando a gerar uma grave crise económica na Alemanha com as consequências conhecidas. Mais recentemente, os casos do Zimbabué, da Argentina ou da Venezuela demonstram os riscos que uma visão de curto prazo pode ter na economia de um país.

Sendo as opções de política monetária maioritariamente técnicas, decidiu-se na maioria dos países desenvolvidos que os bancos centrais, responsáveis pela emissão monetária e determinação das taxas de juro de referência, seriam independentes do poder político. Isso permitiu que a inflação na maioria desses países ficasse controlada, ajudando a estabilizar as economias, impedindo graves crises. Os bancos centrais também assumem o papel de reguladores de todo o sistema bancário, reforçando a necessidade de serem independentes.

A independência dos bancos centrais, embora contestada por setores mais radicais à esquerda e à direita, é um princípio geralmente aceite para o bom funcionamento de uma democracia-liberal e para evitar graves crises económicas.

É por isso que a indicação de Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, para potencial primeiro-ministro de um governo apoiado pelo Partido Socialista é tão grave. Mário Centeno já foi nomeado para governador do Banco de Portugal em circunstâncias que deixam a desejar. Um pequeno golpe de teatro impediu que a passagem fosse formalmente direta, mas, na prática, Centeno passou diretamente de ministro das Finanças para governador do Banco de Portugal – algo que, por si só, é discutível num cenário de independência do Banco Central. Ao ponderar voltar ao governo como primeiro-ministro, estando ainda a cumprir o seu mandato como governador do Banco de Portugal, Mário Centeno só reforçou a ideia de ser um ativo do PS, algo incompatível com a independência em relação ao poder político que se espera da sua posição.

Deputado da Iniciativa Liberal

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