A um ano das eleições presidenciais, o panorama político americano apresenta-se imprevisível. Joe Biden enfrenta níveis consideráveis de impopularidade, enquanto o principal candidato republicano à nomeação, Donald Trump, mantém uma taxa substancial de rejeição. As pesquisas retratam um equilíbrio notável nesse cenário, com uma ligeira vantagem para o candidato republicano. No entanto, é importante ressaltar que esta pode ser a melhor oportunidade para Biden assegurar a reeleição, uma vez que a parcela de eleitores que afirma não votar em Trump sob nenhuma circunstância varia de 55% a 60%.

Biden está numa posição vulnerável, o que se torna particularmente evidente no âmbito económico, onde possui indicadores impressionantes. O seu plano de recuperação pós-pandemia revelou-se um sucesso, com números notáveis, como a criação de 11 milhões de empregos e a taxa de desemprego mais baixa dos últimos 50 anos. A inflação está em declínio e está a ser implementado um ambicioso plano de investimento em infraestruturas que era há muito necessário. No entanto, a perceção da maioria dos americanos sobre o estado da economia é negativa, o que contribui para a imagem enfraquecida da competência do governo neste assunto.

Contudo, estas não são as únicas fragilidades de Biden. A maioria dos americanos acredita que o presidente norte-americano está demasiado velho e que a sua condição física e mental não é apropriada para mais quatro anos. Os escândalos que envolvem o filho Hunter pairarão como uma ameaça constante neste próximo ano eleitoral e certamente serão utilizados pelos republicanos para tentar abafar os crimes de Trump. Além disso, há pouca confiança de que Kamala Harris tenha as competências necessárias para substituí-lo na presidência, caso algo aconteça.

Essas fraquezas já estão a ter impacto na corrida e todas as semanas são projetados cenários onde Biden não é o candidato democrata em 2024.  Na semana passada, Dean Phillips, um desconhecido congressista democrata, anunciou a sua candidatura contra Biden nas primárias democratas. Embora não seja considerado seriamente, este é mais um sinal de que parte do partido desejava ver outros nomes na corrida.

A firme posição de Biden a favor de Israel, embora apoiada pela maioria dos americanos, colocou-o conflito direto com uma minoria ruidosa dentro do seu próprio partido, liderada pelo grupo “The Squad”, composto pelas congressistas Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar ou Rashida Tlaib. De acordo com uma sondagem recentemente divulgada, o apoio ao presidente entre os eleitores árabes-americanos caiu para 17%, representando uma queda significativa de 42 pontos percentuais em comparação com as eleições de 2020. E estes eleitores podem ser decisivos em alguns swing states como a Geórgia, Michigan ou Wisconsin.

Numa eleição que se antecipa competitiva, candidatos independentes podem também ser decisivos. Bill Clinton não teria sido presidente sem Ross Perot e George W. Bush não teria derrotado Al Gore sem Ralph Nader. Recentemente, Robert F. Kennedy Jr. retirou-se das primárias democratas e anunciou a sua candidatura independente. Na primeira sondagem, alcançou uma impressionante marca de 22%, em comparação com 39% de Biden e 36% de Trump.  Embora isto não seja necessariamente negativo para Biden, reflete o desejo dos eleitores de ter alternativas adicionais, o que poderá levá-los a apoiar outros candidatos. Recordo ainda que Cornel West, um velho conhecido da esquerda americana, também será candidato independente, o que poderá custar votos significativos a Biden no eleitorado de esquerda. Isso, por sua vez, tornará a eleição ainda mais imprevisível.

Se o Partido Democrata está em grande fragilidade, o Partido Republicano não está em melhores condições. Pelo contrário. Será o tema da próxima semana.