Centenas de professores e trabalhadores não docentes saíram hoje à rua em Lisboa, na primeira manifestação do ano letivo, para pedir a demissão do ministro da Educação e exigir soluções para vários problemas na escola pública.
A marcha, convocada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop), percorreu várias ruas da capital, entre a Presidência do Conselho de Ministros e a Assembleia da República. Pelo caminho, e ao som de tambores e apitos, algumas centenas de manifestantes foram repetindo cânticos e palavras de ordem, muitos deles com um pedido em comum: a demissão do ministro de João Costa.
“O ministro da Educação demonstrou que não tem soluções”, disse à Lusa o coordenador do Stop, André Pestana, justificando também a escolha do local para a concentração para “pressionar o ministro das Finanças e o primeiro-ministro”.
A manifestação encerrou uma semana de greve convocada pelo Stop e foi a primeira de profissionais das escolas no ano letivo 2023/2024, em que os docentes e não docentes prometem manter a contestação, à semelhança do ano anterior. As reivindicações também se mantêm e a principal é a recuperação do tempo de serviço que esteve congelado: seis anos, seis meses e 23 dias.
“[O Governo] tem de valorizar os profissionais da educação, dando-lhes aquilo a que têm direito”, defendeu Sandra Marques, contando à Lusa que participou na manifestação por si, mas também pelos seus alunos e “pelo país, no fundo”.
“Porque a educação comanda o país e temos de defendê-la com todas as armas que temos. Esta é uma delas e uma das mais importantes”, sublinhou a professora, que deixou várias críticas ao ministério da Educação, acusando-o de não fazer “cedências absolutamente nenhumas”.
A recuperação do tempo de serviço não é a única exigência dos profissionais, que referem vários problemas na escola pública. Desde logo, a falta de professores, assistentes técnicos e operacionais. Nuno Pinto, professor numa escola em Odemira, tem testemunhado em primeira mão esse problema, no arranque do ano letivo. Na sua escola, relatou, há 54 turmas às quais não foram ainda atribuídos todos os professores.
“Estamos numa região em que recebemos muitos alunos estrangeiros. Temos turmas de acolhimento com falta de professores e, neste momento, os alunos passam horas na biblioteca porque têm muitos professores em falta”, disse, acrescentando que há também turmas sem professor a Matemática A e Economia, disciplinas sujeitas a exame.
Cerca das 16h00, à chegada à Assembleia da República e com o apoio da deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, os profissionais voltaram a juntar-se em frente às escadarias do parlamento, erguendo os cartazes e faixas que carregaram ao longo do caminho. Uma professora trazia um acessório diferente e que representava bem uma das suas reivindicações: uma mala de viagem.
Apesar de Elisabete Ferreira estar colocada em Lisboa, onde conseguiu vincular no ano passado, a família da professora continua a viver na Palhaça, no distrito de Aveiro, e, por isso, hoje tem ainda pela frente quase 250 quilómetros para regressar a casa, como faz todas as semanas.
“Vivo cá durante a semana, mas vou à Palhaça durante o fim de semana para conseguir estar com a minha família”, explicou à Lusa, contando que, além dessas deslocações, todos os dias faz o percurso entre Lisboa e Sintra, onde conseguiu alugar casa por ser mais barato.
“Pelo menos, que nos deem um apoio para as deslocações”, defendeu Elisabete, sublinhando que “um apoio à habitação também seria excelente”.