No início deste século, Florentino Pérez, recém-vencedor das eleições num dos maiores clubes do mundo e com os cofres cheios, instituiu a sua política de “Zidanes e Pavones”, baseando-se no suposto equilíbrio entre desconhecidos jovens vindos da cantera do Real Madrid, personificada no central Pavón, que assegurariam a continuidade da mística madrilena, e as maiores estrelas mediáticas mundiais (dentro e fora de campo) do desporto-rei, à razão de uma por época — Zidane, Figo, Beckam ou Ronaldo –, que garantiriam espetáculo, mediatismo, receitas e vitórias desportivas.

Seria uma fórmula infalível.

Contudo, escassos seis anos depois, sem timoneiro à altura para tamanhos egos, com uma equipa desequilibrada, a duas velocidades, pejada de insucessos desportivos e com um “balneário” em guerra aberta, toda esta ideia falhou levando à demissão e saída (pela porta pequena) do seu máximo responsável.

Imagem realista para o que ultimamente se passa com as escolhas de alguns partidos políticos, com especial destaque para o PSD, não exclusivo da atual liderança, uma vez que os resultados das “disruptivas apostas” de Rui Rio, em eleições legislativas, estão à vista de todos.

Fechados sobre os próprios aparelhos, consequentemente distanciados da sociedade civil e desvalorizada que está (por culpa própria) a nobre atividade política, em “jogos de alto risco” (formação de governo ou eleições externas ao partido), a opção é, invariavelmente, por um punhado de académicos ou estrelas mediáticas, sem qualquer ligação ou percurso político-partidário – Zidanes –, tentando assim “camuflar” a grande maioria de ilustres desconhecidos mas eternos controladores da cantera partidária – os Pavones –, que constituem (claro está) a maioria da equipa.

Em vésperas de umas fundamentais eleições europeias, com duas guerras bem próximas das nossas fronteiras, sensíveis políticas migratórias ou de alargamento da UE em análise, a fulcral discussão sobre a aplicação dos fundos comunitários e com a ameaça, por um lado, da extrema-direita, e, por outro, da esquerda woke, exigia-se um pouco mais de maturidade às cúpulas partidárias.

No futebol e na política, como na vida, é no bom senso e no equilíbrio que está a virtude.

Mais do que meros “tiros de pólvora seca”, na tentativa – vã – de combater o populismo “pela direita”, acentuando o contínuo desprestígio da atividade político-partidária, e sob pena da falência dos partidos (e, consequentemente, da democracia), é necessária uma capacidade de atração de bons e experimentados profissionais para os partidos — sendo para isso obrigatória a sua abertura –, de valorização dos seus quadros e de dignificação da atividade política.

Porque invariavelmente, como se viu cá, com André Ventura, ou lá fora, com Trump ou Milei, o resultado não será bom.