Vítor Escária, ex-chefe de gabinete de António Costa e arguido na Operação Influencer, defendeu hoje no julgamento do caso EDP a atuação de Manuel Pinho, sublinhando que não teve perceção de favorecimentos ao Grupo Espírito Santo (GES).
Quase três meses depois de ter sido detido no âmbito do caso que acabou por conduzir à queda do governo, Vítor Escária foi ouvido como testemunha no julgamento que envolve Manuel Pinho, a sua mulher, Alexandra Pinho, e o ex-presidente do Grupo Espírito Santo Ricardo Salgado, devido à sua passagem como assessor económico pelo gabinete do então primeiro-ministro José Sócrates, entre 2005 e 2011.
No depoimento perante o coletivo de juízes, no Juízo Central Criminal de Lisboa, Vítor Escária explicou a sua participação no desenvolvimento do regime para os projetos de Potencial Interesse Nacional e vincou que não visavam contornar as regras procedimentais, mas sim agilizar a captação de investimento.
“Sentiu-se que havia necessidade de haver uma estrutura que acompanhasse investidores com projetos estruturantes para o país. O objetivo era captar o investimento estrangeiro. O que se pretendia era ter um ponto focal e ter um princípio de conferência de serviços: todas as entidades pronunciavam-se em paralelo, à mesa, ao mesmo tempo”, frisou.
Questionado sobre um projeto para a construção de uma refinaria em Sines, à qual estava ligado o empresário Patrick Monteiro de Barros, que integrava também a administração do GES, Vítor Escária lembrou que a iniciativa não chegou a avançar e descartou qualquer intervenção de Manuel Pinho para o favorecimento dos interesses do GES.
“Tanto quanto me recordo, não houve unanimidade em torno do projeto”, disse o ex-chefe de gabinete de António Costa, continuando: “Não tenho memória de [Manuel Pinho] interceder e o projeto não avançou.”
Sobre a definição das pessoas que acompanhavam o primeiro-ministro nas visitas oficiais ao estrangeiro, Vítor Escária explicou que “era a assessoria económica que tinha a responsabilidade de organizar a parte económica das visitas oficiais” e assumiu só ter ideia da presença de Ricardo Salgado numa visita a Angola, em 2006, sem deixar de notar que estiveram também presentes outros banqueiros.
“O procedimento era tentar encontrar no destino as entidades que se justificavam estar na visita. Nessa visita a Angola foram também o presidente da CGD, do BCP e do BPI, numa comitiva de empresários que tinha cerca de 60 pessoas”, resumiu.
Na sessão desta tarde foram ainda ouvidos o antigo ministro da Economia Braga da Cruz, o ex-presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira Pedro Pinho, e Sónia Faustino, viúva do antigo motorista de Manuel Pinho. O julgamento prossegue na próxima quarta-feira.
Manuel Pinho, em prisão domiciliária desde dezembro de 2021, é acusado de corrupção passiva para ato ilícito, corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal. A sua mulher, Alexandra Pinho, está a ser julgada por branqueamento e fraude fiscal – em coautoria material com o marido –, enquanto o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, responde por corrupção ativa para ato ilícito, corrupção ativa e branqueamento de capitais.