Viktor Orbán revelou hoje que propôs a reabertura dos canais diplomáticos entre União Europeia e a Rússia, a par de dialogar com a China sobre “modalidades da próxima conferência de paz” para o conflito na Ucrânia.
Sem propostas concretas para questões fundamentais nas negociações, como o futuro das regiões da Ucrânia invadidas e anexadas pela Rússia ou retirada das forças russas, o governo húngaro divulgou os detalhes de um plano para a resolução do conflito no território ucraniano, iniciado há mais de dois anos com a invasão ordenada por Vladimir Putin.
O primeiro-ministro húngaro revelou o plano na rede social X, na sequência da “divulgação de partes” do documento por Charles Michel, em que propõe, entre outros pontos, a “reabertura de linhas de comunicação diplomática com a Rússia e a reabilitação de contactos diretos na comunicação política” da União Europeia, “mantendo os contactos políticos de alto nível com a Ucrânia”.
As fragments of my report to #EUCO President @CharlesMichel on my #peacemission have surfaced, I decided to release the whole document for the sake of clarity and context.https://t.co/S55UQyZ8pd
— Orbán Viktor (@PM_ViktorOrban) July 18, 2024
Em simultâneo, Orbán quer “contactos políticos de alto nível” com Pequim “sobre as modalidades da próxima conferência de paz”.
“[Proponho] o lançamento de uma ofensiva política coordenada para o sul global cuja apreciação perdemos a propósito da nossa posição em relação à guerra na Ucrânia, resultando num isolamento global da comunidade transatlântica”, sugeriu Viktor Orbán.
O relatório surgiu na sequência de visitas que o primeiro-ministro húngaro fez à Ucrânia, Rússia e China logo após o início da presidência húngara do Conselho da União Europeia, no início de julho, que foram condenadas pelas instituições europeias e líderes europeus, levando mesmo a um boicote de eventos de Budapeste este semestre.
“A nossa estratégia europeia em nome da unidade transatlântica copiou a política pró-guerra dos Estados Unidos. Não houve uma estratégia europeia soberana e independente ou plano de ação política até hoje. Proponho que discutamos se a manutenção desta política no futuro é racional”, criticou Orbán, considerado o único líder europeu e ocidental abertamente próximo de Vladimir Putin.
Viktor Orbán foi também o único líder europeu que se encontrou com Putin desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro de 2022, e em diversas ocasiões ameaçou bloquear definitivamente o apoio prestado pela União Europeia à Ucrânia. É também um crítico acérrimo da estratégia de auxílio europeu, que apelidou de “fracasso” no passado.
Perante as recentes polémicas, algumas bancadas parlamentares (como os liberais) sugeriram encurtar estes seis meses de presidência e passar já a rotatividade da presidência do Conselho da União Europeia à Polónia, que seria a seguir, enquanto alguns Estados-membros, nomeadamente os bálticos, estão a decidir ser representados por funcionários e não por governantes nas reuniões informais em Budapeste, como forma de protesto.
Portugal tem optado por enviar secretários de Estado para as reuniões informais em Budapeste que já se realizaram: Mercado Interno e Indústria, de Ambiente e de Energia.
Na terça-feira, Charles Michel lembrou o primeiro-ministro húngaro que a presidência rotativa da União Europeia “não tem qualquer papel na representação na cena internacional”, após a polémica viagem de Viktor Orbán à Rússia.
“A presidência rotativa do Conselho não tem qualquer papel na representação da União na cena internacional e não recebeu qualquer mandato do Conselho Europeu para atuar em nome da União. Deixei isto claro mesmo antes da sua visita a Moscovo, o que foi de seguida reiterado pelo alto representante Borrell na sua declaração de 5 de julho”, afirmou Michel numa missiva hoje enviada a Orbán e à qual a agência Lusa teve acesso.
Uma semana depois de o primeiro-ministro húngaro ter garantido ao presidente do Conselho Europeu que não foi à Rússia em nome da União Europeia, mas para conhecer, “em primeira mão”, a visão russa sobre paz na Ucrânia, após a guerra iniciada pela Rússia em fevereiro de 2022, Michel escreveu a Orbán para fazer “observações e esclarecer as coisas”.
“Em primeiro lugar, a posição da União Europeia sobre a Ucrânia é acordada por consenso pelo Conselho Europeu e foi confirmada mais recentemente em junho. Nós, a União Europeia, reiterámos o nosso compromisso inabalável de apoiar a Ucrânia e o seu povo durante o tempo que for necessário e com a intensidade que for necessária e prestámos apoio à Ucrânia para se defender da guerra de agressão da Rússia e para proteger a segurança europeia”, vincou.
Acresce que “não posso aceitar a sua afirmação de que conduzimos uma ‘política pró-guerra’”, acrescentou o responsável, vincando que “se passa é exatamente o contrário”, isto é, “a Rússia é o agressor e a Ucrânia é a vítima que exerce o seu legítimo direito à autodefesa”.
Além disso, “nenhuma discussão sobre a Ucrânia pode ter lugar sem a Ucrânia” e “o caminho mais direto para a paz é a Rússia retirar todas as suas forças da Ucrânia e respeitar a integridade territorial da Ucrânia e a Carta das Nações Unidas”, adiantou Charles Michel na carta acedida pela Lusa.