Venezuela veta observadores do Parlamento Europeu nas presidenciais de 2024
A Assembleia Nacional da Venezuela decidiu recriminar, por unanimidade, a decisão do Parlamento Europeu de condenar a desqualificação de políticos da oposição para participar nas eleições presidenciais previstas para o próximo ano.
A Venezuela anunciou hoje que vetará o envio de observadores do Parlamento Europeu para as eleições presidenciais de 2024, acusando a Europa de violar anteriores acordos de observação eleitoral e de imiscuir-se na política interna venezuelana.
“Aqui não virá nenhuma missão de observação da Europa, enquanto formos os representantes do estado venezuelano. Não virá!”, disse o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela.
Jorge Rodríguez falava em Caracas, durante uma sessão parlamentar em que foi recriminada, por unanimidade, a decisão do Parlamento Europeu de condenar a desqualificação de políticos da oposição para participar nas eleições presidenciais previstas para o próximo ano.
“Violaram o acordo que assinámos com eles. (…) Somos aguerridos, rebeldes, mas somos decentes, ao contrário deles. As pessoas decentes não escravizam humanos, não assassinam os habitantes originais de uma terra. As pessoas decentes são decentes”, disse Jorge Rodríguez.
O presidente da Assembleia Nacional explicou que Josep Borrell ainda não pediu desculpas por, em 2019, ter reconhecido o opositor Juan Guaidó como auto-proclamado presidente interino da Venezuela.
“Ainda não pediu desculpas por ter dito que, em oito dias, reconheceriam esse senhor como presidente interino da Venezuela. Deveriam ver-se ao espelho, ver-se na sua própria imbecilidade”, disse.
Jorge Rodríguez disse que poderia colocar à disposição os vídeos onde deputados da União Europeia, que estiveram no país, convidados pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, violam o acordado durante as últimas eleições para câmaras municipais e governações.
“Como toda a missão de observação, tiveram de assinar um protocolo que tinham que cumprir, cujo primeiro ponto era não se imiscuir nos assuntos políticos internos. (…) Tenho o vídeo de um deputado que, nessa missão de observação, numa reunião com dois candidatos da oposição à governação do Estado de Bolívar, diz-lhes que têm de se unir para poderem derrotar o chavismo”, acrescentou.
O presidente da Assembleia Nacional Venezuelana afirmou ainda que, durante a visita dos deputados, estava previsto um encontro com o presidente do Parlamento e o presidente da Venezuela.
“Disseram que não tinham tempo. Não se reuniram com o presidente constitucional da República, o presidente [Nicolás] Maduro, e conseguiram tempo na agenda para reunir-se com Juan Guaidó, que não estava a participar nas eleições e apelava à abstenção”, explicou.
Jorge Rodríguez disse ainda que receberam “emissários” do Parlamento Europeu pedindo que fossem convidados a observar as eleições presidenciais de 2024: “Formalmente dissemos-lhes que não temos tempo para considerar a solicitação, estamos demasiado ocupados para considerar as vossas birras, os vossos choros”.
“Na Venezuela, as leis são feitas por venezuelanos e venezuelanas. As eleições na Venezuela são feitas por venezuelanos e venezuelanas (…) A vida, o futuro na Venezuela, são os venezuelanos e venezuelanas que decidem. (…) Nenhuma visão da observação europeia vai voltar aqui. Não voltam por [serem] mal-educados, colonialistas, representantes dessa vetusta Europa imperial, assassina e esclavagista”, disse.
O Parlamento Europeu condenou quinta-feira a decisão de desqualificar políticos da oposição venezuelana para as presidenciais de 2024 “arbitrária e inconstitucional”, bem como a interferência do regime no processo eleitoral do país.
Na sequência de um debate sobre este tema no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, foi aprovada uma resolução por 495 votos a favor, 25 contra e 43 abstenções.
A Comissão Europeia insurgiu-se durante o debate contra a desqualificação de opositores políticos na Venezuela, considerando-a “um desenvolvimento extremamente preocupante”.
Pelo menos quatro opositores com aspirações de participar nas eleições presidenciais de 2024 – Maria Corina Machado, a favorita, Henrique Capriles, Juan Guaidó e Freddy Superlano – foram desqualificados, estando impedidos de exercer quaisquer cargos públicos.