Num percurso quase relâmpago de oito horas, Leonor, princesa das Astúrias, fez a sua primeira viagem oficial, como herdeira do trono espanhol. De rigor protocolar, tudo estava pleno de significado: do elegante conjunto encarnado – cor comum das bandeiras dos dois países – à deposição da coroa de flores no túmulo do poeta heroico e da maior epopeia portuguesa, no ano da celebração do seu V centenário de nascimento, cada gesto foi pensado e medido. E à medida. A sua juventude e inexperiência só foram denunciadas quando pronunciou, num discurso cheio de afeto por Portugal, um leve tremor das palavras mais sentimentais para conosco. Momento esse carregado, também, de frescor e, como diria Camões, “fermosura”. Mas não só de amizade bilateral foi esta visita exemplo: as preocupações que prendem a futura rainha de Espanha, desde de tenra idade – nomeadamente o futuro do ambiente, a questão das alterações climáticas e os oceanos em particular – não foram esquecidas.

Fez questão de visitar a Fundação Oceano Azul. Foi precisa uma viagem de uma futura chefe de Estado estrangeira para se dar relevo na imprensa a uma fundação portuguesa pioneira, com um trabalho científico de renome internacional e de excelência. Só por isso, já valeu a pena a presença da princesa das Astúrias. Julgo que a sua escolha, ao colocar Portugal como prioritário nas suas relações diplomáticas oficiais, é um gesto com peso. Talvez só tenhamos plena consciência do que ele significa e significará quando Leonor se tornar chefe de Estado. Mas é esta uma das muitas vantagens do sistema monárquico: pensa em décadas, projeta para o futuro, dando estabilidade e segurança no presente. E, recordando a poesia camoniana, veio fermosa, e vai segura!