Esta tem sido uma campanha atípica. Há a sensação de que já dura desde novembro, desde a queda do governo Costa. Já dura há tanto tempo que acabámos por criar uma habituação e parece estranho que vá acabar já na próxima semana.

Esta foi a campanha dos underdogs contra os supostos superstars. É uma campanha em que Luís Montenegro e Rui Rocha não gozavam de grandes expectativas junto dos eleitores e em que Pedro Nuno Santos seria o supercandidato, o Action Man da esquerda, que empolgaria tudo e todos com as suas supostas capacidades oratórias. Foi um tiro de pólvora seca.

Agora que a campanha se aproxima do fim, temos Montenegro convincente e Nuno Santos descredibilizado. Montenegro foi a tartaruga e PNS era a lebre.

A AD caminha para a vitória, embora eu tenha dúvidas da validade de apresentar o Pedro Papa-pensões nesta altura. Montenegro é um bom candidato a primeiro-ministro, basta não dar tiros nos pés. Algo semelhante se passou com Rui Rocha. Um candidato sem notoriedade e sobre quem não havia qualquer expectativa acaba a campanha com uma imagem de seriedade e até de alguma simpatia. Era o underdog e deu a volta por cima. André Ventura tem estado igual a si mesmo: um dos mais talentosos oradores desta campanha, que desperdiça o dom dedicando-se a insultar tudo e todos, e a dizer uma coisa num dia e o seu contrário no dia seguinte. Passou a campanha a afirmar que até poderia ganhar e agora está em queda nas sondagens. Tenho-me lembrado muito da campanha presidencial, em que ele acabou atrás de Ana Gomes. Não deve haver nada mais humilhante do que ter menos votos do que Ana Gomes.

Mesmo nos debates em que se esperava que brilhasse, Ventura acabou a fazer figura de menino menos educado, aos berros e sempre a interromper para “mandar bocas”. Nas eleições de há dois anos, Ventura surpreendeu nos debates, pois ninguém estava familiarizado com o seu estilo truculento de comentador da bola. Agora, os seus adversários já conhecem o estilo, estão preparados, e é Ventura quem acaba surpreendido. Sem uma proposta, sem nada que não seja mandar bocas e prometer tudo a todos, sem fazer uma conta a quanto custariam as promessas. Também não devemos exigir que apresentem essas contas, pois isso pressupõe que haja alguém que saiba fazê-las. Todas as intervenções de André servem unicamente para montar vídeos manhosos para o TikTok a dizer que “arrasou”. Uma estratégia para lerdaços, mas muito eficaz.

Na esquerda mais extrema temos a CDU com uma fraca campanha para não descer de divisão e um candidato simpático cujo nome não recordo. A CDU desapareceu no dia em que apoiou o governo da geringonça, tendo perdido grande parte da sua base eleitoral formada pelos ressentidos e frustrados que se passaram de armas e bagagens para o partido do outro extremo.

Outro que nunca recuperou do apoio à geringonça é o Bloco, que até começou bem a campanha, com um dos melhores cartazes em termos gráficos e mensagem (“Não lhes dês descanso”). Mas o que prometia ser uma estratégia bem pensada depressa tropeçou no Avógate e, subitamente, toda a gente percebeu que a candidata economista era grande adepta de economizar nas verdades. Apesar de tudo, os fiéis vão-se mantendo fiéis, mesmo sem acreditarem minimamente no que esta Ventura da esquerda diz.

Quem tem capitalizado com o desnorte à esquerda é o Livre, capitaneado pelo único membro conhecido, Rui Tavares, o Lenine do Lux. Em termos de comunica- ção, baralhou os adversários com um discurso tão hermético que desconfio que nem outros livren- ses o entenderam. Mas em campanha convém esconder propostas para não ser atacado e poder atacar livremente o adversário. Nisso, Rui é brilhante.

Faltou o PAN, mas, na verdade, não faz falta nenhuma.

Critativo

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 2 de março