No passado dia 12 de julho ficámos a conhecer o ranking das escolas de 2023, uma iniciativa que é responsabilidade de uma universidade portuguesa a meias com um órgão de comunicação social nacional. A criação do ranking parte de dados oficiais, nomeadamente as notas dos exames finais do 9.º ano e do ensino secundário (i.e., 11.º e 12.º anos) os quais, após algum tratamento estatístico, permitem ter uma ideia sobre a performance relativa das nossas escolas.

Em linha com o que já é habitual, o ranking de 2023 é dominado por escolas do sector privado. De facto, independentemente de considerarmos os resultados para o 9.º ano ou para o secundário e de focar a análise em escolas onde existem mais ou menos de 100 alunos sujeitos a exame, o top nacional é sempre constituído por unidades de ensino que não são públicas. Estes rankings geram sempre uma acesa discussão na sociedade, com uns a defender que a sua publicação coloca simplesmente a nu a dura realidade de um país a (pelo menos) duas velocidades e outros a argumentar que este exercício não faz qualquer sentido pois força a comparação de realidades que são, por definição, totalmente incomparáveis.

Pessoalmente, sou da opinião que, apesar das suas naturais lacunas, este exercício gera informação que é bastante útil. Assim, decidi perceber o que o ranking de 2023 nos diz sobre a realidade do Algarve. Por facilidade, foquei a minha atenção nos resultados para o ensino secundário e para as escolas que têm 100 ou mais estudantes a fazer provas finais. Este filtro gera um total de 542 unidades, das quais 17 estão localizadas no nosso distrito. A Escola Secundária João de Deus (em Faro) é a que obtém melhores resultados, ocupando a centésima segunda posição. Em seguida vem a Escola Secundária Gil Eanes (Lagos) que, ficando em 191, fecha a participação do Algarve acima do ducentésimo lugar da geral. Logo, a maioria das nossas escolas queda-se no percentil 65 mais baixo da distribuição, destacando-se neste lamentável contexto a Escola Básica e Secundária de Albufeira que, infelizmente, ocupa o quingentésimo lugar do ranking.

Há alguma informação disponível sobre o contexto em que estes resultados são obtidos. Por exemplo, na Escola Básica e Secundária de Albufeira, 18% dos alunos são classificados como sendo carenciados. Há ainda nota de que o nível médio de habilitações dos(as) pais (mães) se fica pelos 9,6 (11,29) anos de escolaridade e que a percentagem de reprovações na escola ronda os 20%. A realidade da Secundária João de Deus é bastante melhor: 1% dos alunos são carenciados, há 5% de reprovações e a escolaridade média dos educadores anda nos 12,11 e 12,07 anos, para pais e mães, respectivamente. Os dados mostram ainda uma realidade interessante sobre os docentes: na escola Farense 75% são do quadro; já em Albufeira apenas 68% está na mesma situação.

Em resumo, o que é que este ranking nos diz sobre a educação no Algarve? Poder-se-á dizer que nada (de especial). De facto, há muito que estão mapeados os problemas centrais neste domínio, como a dificuldade para fixar professores e o desafio que resulta de a região ter de responder às necessidades de uma percentagem elevada (e crescente) de jovens vindos de famílias oriundas dos quatro cantos do mundo. Ainda assim, mesmo que se dispute o valor absoluto do ranking das escolas, parece-me que este instrumento nos deixa uma clara mensagem de preocupação: o Algarve tem de trabalhar melhor o seu melhor activo, i.e., os jovens. De facto, na ausência de medidas concretas, vamos simplesmente aumentar a nossa distância relativa para com o resto do país.