Das três Guinés que existem (Bissau, Conakry e Equatorial), duas são membros da CPLP. Pouco falada é a francófona República da Guiné, ou Guiné-Conakry como é muitas vezes conhecida.
Tive a oportunidade de lá ir muito recentemente, acompanhando uma delegação de empresários lusófonos que procuravam na área da mineração produtos que existem em grandes quantidades por estas bandas da África Ocidental abaixo do Sahara. Neste grupo, vários conheciam a África melhor ou pior. A “portuguesa” e a outra… e acreditámos que íamos bem preparados para encetar relações comerciais, ou pelo menos perceber o modus operandi deste país.
Estava muito calor, chegámos perto das 2h30 da manhã, e tivemos uma receção oficial no aeroporto com direito ao lounge VIP e tudo, depois levaram-nos para um hotel de 3ª categoria após uma estranha operação stop a esta hora com alguns militares armados. Fomos revistados, abriram e vasculharam as malas e seguimos viagem. A partir daqui tudo se tornou num pesadelo. Mal dormidos, vieram-nos buscar cedo. Estamos no meio do Ramadão e as pessoas não bebem nem sequer água desde o nascer ao por do Sol. Levam-nos por um caminho estranho, 2h30 de viagem numa estrada tipo “caminho de cabras”. Um dos empresários toca-me na mão e diz “Não reaja, mas se isto não for um sequestro é o mais parecido que já vi”…começo a ter suores quentes e frio e aumento o ritmo cardíaco mantendo o sorriso… como nos vamos safar? Eles têm as nossas bagagens e passaportes, nesta zona nem rede nem wi-fi. Graças a um dos presentes ser perito em negociações, saímos do local com o objetivo de fazermos uma transferência avultada, mas que teríamos de usar o telemóvel e outros meios para a prepararmos. Pouco convencidos, a quadrilha devolve-nos a um hotel de 5 estrelas que eu reservei por precaução antes da partida, mas querem saber os nossos quartos e deixam lá fora elementos de plantão.
Finalmente sós, combinamos a estratégia de nos “pirarmos” de ali para fora o mais rápido possível. Nesta altura, todos puxamos dos nossos contatos e cobramos favores…demorou! Nas 48 horas seguintes éramos escoltados até ao pequeno-almoço, e sempre a fazerem perguntas sobre o pagamento. Sem sairmos do hotel, passeamos pelos jardins sempre com um deles colado. Finalmente chega a ajuda. Chega um conhecido com dois comissários da polícia e como que por magia os bandidos evaporam-se. Estamos salvos, pensamos! Mas e agora? Os vistos de entrada são duvidáveis. Depois de puxarmos dos contatos, foi altura de puxar os “cordões à bolsa”, e por cerca de 400 dólares por pessoa saímos com destino a Casablanca e depois Lisboa. Chego a casa e cai-me a ficha, completamente. Fico em silêncio cerca de uma hora sentado na sala e penso “obrigado Deus, por me teres permitido voltar são e salvo para a minha terra e para minha família”.