Longe da espuma dos dias e da (falta de) capacidade ou condições políticas para verdadeiros acordos de regime, foram recentemente publicados os resultados de um estudo da Universidade Católica Portuguesa denominado “Os Jovens e o Mundo do Trabalho”.

Resultados esses que nos deviam – a todos enquanto sociedade – fazer parar para pensar e refletir sobre que País construímos e que deixaremos às futuras gerações.

Nele mais de metade dos jovens (55%) afirma querer emigrar, ou seja, mais de cinquenta anos volvidos da Revolução de 25 de abril, não vê no seu País condições para o seu projeto de vida futuro.

Falhou (e falha) o terceiro D do ideário revolucionário, o do Desenvolvimento, quando não conseguimos projetar no melhor de nós – os nossos jovens – um sonho, um desígnio e vemos nestes o desalento e a falta de esperança.

Hoje, como ontem, são o trabalho (o salário, a estabilidade profissional, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e a possibilidade de progressão na carreira), bem como a – falta de – habitação, as condições essenciais para uma verdadeira emancipação, o que os preocupa.

Nada de verdadeiramente distinto dos seus pais ou avós.

Há dez anos, em plena (terceira em trinta e cinco anos) intervenção externa para o equilíbrio das contas públicas, com uma taxa de desemprego jovem a rondar os 40%, era a falta de emprego que os preocupava e fazia voltar ao triste fado dos surtos migratórios dos Anos 60 e 70.

Agora, corrigidos os desequilíbrios estruturais das contas públicas, com baixas taxas de desemprego, sucessivos aumentos de apoios sociais, do valor do salário mínimo ou do número de funcionários públicos, o que continua a falhar?

Falha, por um lado, a preocupação dos agentes políticos com reformas verdadeiramente estruturais, daquelas que cativem e empenhem os jovens (mas também os menos jovens) no seu País. Que os convença de que o País não está enquistado nos mesmos grupos, famílias, mecanismos ou dependências de há anos a esta parte.

E falha, por outro lado, a tónica exclusivamente eleitoralista (particularmente da esquerda) posta nos jovens e no futuro do País, estando, ao invés, no passado, nos direitos das minorias (as por si controladas) e nos direitos adquiridos de grupos de pressão, mais ou menos numerosos, que nada dizem aos jovens de hoje.

Como disse – mais uma vez – o Presidente da República no seu discurso de 5 de outubro, esta democracia, incluindo os seus partidos, ou se reforma ou será reformada de fora. Os jovens, esses, sempre certeiros, fazem diária e dramaticamente as suas escolhas, sem olhar para trás.