Não sou ninguém dos “meios influentes”. Não sou influenciador. Não sou das elites. Sou apenas um Manuel qualquer que paga impostos, cala e come.

Sou apenas um Manuel qualquer, que assiste ao que se passou na última semana e que não quer acreditar no deboche e na farsa que está a acontecer.

Sou apenas um Manuel qualquer, que já não tem vontade de ser mais um a escrever sobre esses acontecimentos pois sabe que não adianta nada. Ninguém lê, ninguém quer saber.

Sou apenas um Manuel qualquer, que já não tem dúvidas de que vive num país miserável e de gente miserabilista. Gentinha sem qualquer grandeza que só quer garantir o seu.

Sou apenas um Manuel qualquer, derrotado pela miséria moral reinante neste país, em que um governante se demite alegando que foi por causa de um parágrafo, mas não viu nenhum problema ético nos membros que escolheu para o seu governo.

Sou apenas um Manuel qualquer, que assiste impotente a uma justiça em roda livre que não presta contas nem respeita os direitos de ninguém.

Sou apenas um Manuel qualquer, que assiste impotente à ascensão de um demagogo de esquerda que vai fazer frente a um impostor de extrema-direita, num país em que as pessoas descartam políticos sérios pois “não têm carisma”.

Sou apenas um Manuel qualquer, que vê o seu país descambar em todos os rankings e tem de assistir a governantes quererem convencer-nos de que temos crescido.

Sou apenas um Manuel qualquer, que sabe que não conta com os hospitais públicos, nem com a escola pública e que vê os serviços do Estado degradarem-se completamente.

Sou apenas um Manuel qualquer, a quem o governo quer convencer do alívio fiscal e que sabe que nada daquilo é verdade. Nunca vivemos com tanta asfixia fiscal, nunca o Estado arrecadou tanto e nunca o Estado forneceu tão pouco aos cidadãos.

Sou apenas um Manuel qualquer, que não quer viver mais neste clima de agressividade entre esquerdas e direitas. Quero soluções e quero gente séria no governo do meu país. Não quero demagogos só porque sabem mandar bocas ou demagogos que prometem políticas que todos sabem que nunca funcionaram em lado algum.

Sou apenas um Manuel qualquer. E milhões de Manuéis como eu sentem a claustrofobia democrática, pois vivemos num país em que o Estado de Direito é apenas uma ilusão. Onde somos espoliados através dos impostos, onde nada funciona quando precisamos do Estado e onde postulamos que uma elite pode fazer livremente negócios entre si, pois há um partido que tomou conta do Estado e do país.

E os Manuéis como eu vão vivendo e sobrevivendo, já sem esperança de que este país venha a ser sério. Perdemos toda a esperança quando, para substituir um governo pouco sério, as pessoas querem escolher entre um candidato que enquanto governante só fez asneiras e um candidato que trouxe o mundo do comentário futebolístico para a política. Triste sina a nossa.

Criativo

Artigo publicado na edição do NOVO de dia 18 de novembro