Estudos recentes indicam que as alterações climáticas estão na origem da intensificação de fenómenos extremos, que se distribuem de forma assimétrica, espacial e temporalmente, nas diferentes regiões do globo.
Em Portugal, os efeitos das alterações climáticas têm vindo a ser sentidos ao longo das últimas décadas, traduzindo-se em prolongados períodos de seca e em eventos de precipitação intensos. Uma das medidas estruturais realizadas, com vista a minimizar o impacto destes eventos, foi a construção de barragens e a consequente constituição de albufeiras. Para além da necessidade de regularizar os caudais dos rios, as barragens têm ainda outras finalidades, como seja garantir a disponibilidade hídrica para o abastecimento público às populações, a irrigação e a produção de energia hidroelétrica.
No que diz respeito ao abastecimento público às populações, no Algarve existem 5 barragens de iniciativa pública, cuja finalidade é o abastecimento público, fazendo parte do sistema multimunicipal de abastecimento de água do Algarve que se encontra sob a gestão da empresa Águas do Algarve.
A Águas do Algarve foi constituída nos anos 2000, sendo que, até à data, o abastecimento público na região encontrava-se sob a gestão de duas entidades distintas, a Águas do Barlavento Algarvio e a Águas do Sotavento Algarvio. As Águas do Barlavento e do Sotavento Algarvio, criadas em 1993, foram um dos primeiros sistemas multimunicipais de captação, tratamento e abastecimento de água para consumo humano, criados em Portugal, sendo o racional desta prioridade o crescente aumento populacional verificado na região e um grave problema da qualidade da água.
Nessa altura, constatava-se que no Algarve, era cada vez mais difícil satisfazer as necessidades de água da população residente e dos turistas, especialmente nos meses de Verão. A pressão exercida pela procura crescente de água tinha levado a uma sobre exploração das origens de água, até então quase exclusivamente subterrâneas, conduzindo a uma degradação da qualidade da água fornecida ao utilizador, provocada pela intrusão salina e pela poluição difusa resultante de atividades agrícolas intensivas.
Adicionalmente, em 1986, com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia era imprescindível dar cumprimento às diretivas comunitárias sobre a qualidade da água, com as quais Portugal estava comprometido sendo, portanto, necessário e urgente uma melhoria dos sistemas de abastecimento de água da região. Entre os anos de 1993 e 1999, foram realizados os primeiros investimentos com vista a colmatar o problema da qualidade da água, nomeadamente a construção das infraestruturas de captação e tratamento de água de Tavira e Alcantarilha, com especial impacto na redução do número de origens de água e num maior controlo da qualidade da água captada e produzida.
Desde então e até aos dias de hoje, o abastecimento de água realizado pela Águas do Algarve é, maioritariamente, de origem superficial, sendo, aproximadamente, 84% proveniente das albufeiras e 16% de furos.
Mas se na década de 90 o Algarve vivia um problema de qualidade da água, devido à sobre exploração das origens de água subterrâneas, na atualidade, a região depara-se com um problema de quantidade de água. Para ultrapassar este problema, será imprescindível a adoção de medidas estruturantes, que garantam as crescentes necessidades da região, tal como realizado no passado com o problema da qualidade da água, com foco em soluções acertadas, de longo prazo e economicamente viáveis.
Não muito distante da região do Algarve, conseguimos vislumbrar aquela que será a solução mais interessante do ponto de vista da eficácia, que é já hoje indicada pelo nosso país vizinho, como a solução que lhes permitirá mitigar os problemas da falta de água na região de Andaluzia.
É urgente identificar as políticas públicas mais adequadas, face ao problema existente, dado que a discussão sobre a gestão da água determinará o modelo económico para a região.