José Maria Ricciardi garantiu hoje que Ricardo Salgado deu instruções de ser ele “o único interlocutor” do BES com José Sócrates e que o ex-banqueiro “passava a vida em São Bento”.

“Tive uma instrução de [Ricardo Salgado] que quem falava com José Sócrates era ele e mais ninguém. E eu até conhecia José Sócrates antes de ser primeiro-ministro”, adiantou o antigo presidente do BES Investimento (BESI), sublinhando que o antigo presidente do Grupo Espírito Santo (GES) “era o único interlocutor”.

“Tenho a certeza de que havia uma relação de intimidade entre Ricardo Salgado e José Sócrates pela prática dos dias”, acrescentou.

Falando na condição de testemunha, na quinta sessão do julgamento do Caso EDP, no Juízo Central Criminal de Lisboa, o antigo líder do BESI – que nunca chegou a ser acusado pelo Ministério Público de crimes na investigação em torno do Universo Espírito Santo – disse não estar de relações cortadas com o primo, Ricardo Salgado, apesar de assumir que não voltou a ter relações pessoais ou profissionais com ele desde o colapso do BES, em 2014.

Questionado pelo advogado de Ricardo Salgado, Francisco Proença de Carvalho, se alguma vez procurou falar com Salgado ou a mulher do antigo presidente desde então, Ricciardi explicou que não estariam disponíveis para falar com ele.

“Tenho a certeza de que eles nunca me receberiam, porque acham que eu sou um dos culpados da queda do BES, juntamente com o doutor Passos Coelho e o doutor Carlos Costa”, observou.

José Maria Ricciardi assumiu também ser amigo de Passos Coelho e deu o seu exemplo pessoal para vincar as diferenças em relação a Ricardo Salgado e José Sócrates.

“Tive um problema em que fui constituído arguido por causa da privatização da EDP e falei com Passos Coelho por telefone, sou amigo dele. E Ricardo Salgado disse que sempre falava com José Sócrates os telefones ficavam fora da sala… Eu respondi-lhe que não havia problema, porque [o que falava com Passos Coelho] eram sempre coisas corretas e não havia problema em falar por telefone”, esclareceu.

O antigo presidente do BESI adiantou também que José Sócrates “tinha uma relação muito próxima com Hélder Bataglia e Henrique Granadeiro” ainda antes de ser primeiro-ministro e explicou as ligações destes dois ex-gestores a pessoas da família do ex-governante: “Criou-se uma amizade com José Sócrates e estes dois colaboradores mais íntimos de Ricardo Salgado”.

Ricciardi reiterou ainda que Salgado “exercia poder absoluto” no BES e que quem o contestava “arriscava ter problemas”, como veio a ser o seu caso, quando foi o único a votar contra a moção de confiança ao antigo presidente do GES.

“Estive à beira de ser demitido de todos os cargos, fosse no grupo, fosse no banco. Tinha riscos essa contestação. Lembro-me de Helder Bataglia dizer em tribunal que todos obedeciam a Ricardo Salgado”, sublinhou, resumindo: “Ele tinha o conselho todo na mão. Significa que votaria com ele para a minha demissão. (…) De 1999 a 2014 são 15 anos e nunca vi Ricardo Salgado ser derrotado [numa votação na administração do BES]”.