Resultado das eleições no Líbano mantém o pântano
A falta de cereais que eram comprados na Ucrânia aumentou os preços da comida e agravou a crise. O país precisa de reformas, mas o sistema político continua bloqueado.
O eleitorado libanês, que foi às urnas em plena crise socioeconómica, retirou a maioria parlamentar ao grupo xiita Hezbollah (que conta com o apoio do Irão) e aos seus aliados. Dos 71 lugares alcançados nas legislativas de 2018, o bloco do Hezbollah não foi agora além dos 61 lugares num universo de 128 deputados. Por seu turno, as Forças Libanesas, que se opõem ao Hezbollah, anunciaram ter aumentado os seus resultados em relação ao último escrutínio, sem alcançar, porém, a maioria.
Os primeiros resultados revelam ainda terem sido eleitos candidatos de cinco forças políticas independentes que fizeram campanha em defesa de reformas e da responsabilização dos políticos que conduziram o Líbano à pior crise desde a guerra civil (1975-90).
O escrutínio de domingo, cuja abstenção foi de 41%, ocorreu num momento difícil para o país. Na memória dos libaneses estão bem presentes os protestos pró-reformas de 2019 e a explosão, um ano depois, no porto de Beirute que fez mais de 200 mortos e destruiu parte da Baixa da cidade.
O sofrimento no País do Cedro não fica por aqui: a pandemia não o poupou e a crise adensou-se com a desvalorização da moeda em 90%, o aumento do custo de vida e do desemprego que atingiu famílias inteiras, principalmente na região de Trípoli, a segunda cidade do país, de onde famílias inteiras procuram fugir em frágeis barcos em direcção à Europa.
Apesar de ser a cidade natal do primeiro-ministro e de milionários libaneses, Trípoli é uma das mais pobres do país, onde falha a electricidade e residentes procuram, nas lixeiras, latas para venderem e sobreviverem. A guerra na Ucrânia tornou tudo mais difícil: deixaram de chegar os cereais vindos daquele país e da Rússia e os que chegam são a preços incomportáveis para o cidadão comum.
Na ausência de uma maioria, a formação de um novo governo pode durar meses, o que dificultará a realização de reformas e o apoio do Fundo Monetário Internacional e de países doadores.