Escolas vazias, alunos de regresso a casa, hospitais e repartições públicas a funcionarem com serviços mínimos é o cenário registado desde as primeiras horas desta quarta-feira em Luanda, como reflexo do primeiro dia da greve geral.
Nas escolas, alunos manifestam-se preocupados com a interrupção das provas trimestrais, sobretudo no 1.º ciclo do ensino primário e secundário, devido à paralisação dos professores, enquanto as direções esperam por negociações entre as partes para a suspensão da greve decretada pelas centrais sindicais.
“Estamos em greve geral da função pública pelo direito ao salário justo. Professor, fica em casa. Professora, fica em casa. Viva a greve”, pode ler-se nos cartazes afixados à entrada das escolas públicas, na capital angolana, como constatou a Lusa.
“Não tive aulas por causa da greve, os professores estão em greve, não disseram nada e amanhã não teremos aulas, a greve é preocupante porque já estávamos no último trimestre”, disse à Lusa o estudante Edivaldo Pereira, a frequentar a 8.ª classe no Colégio Público Juventude em Luta.
Uma reduzida presença de pessoas no conhecido “Largo das Escolas”, contrasta com o normal dia de trabalho, sendo que a maioria dos presentes no local eram alunos de batas brancas que regressavam a casa.
Entre estes encontramos Vítor Malungo, 9.ª classe, que também não teve aulas: “Estão em greve devido à falta de salários”, disse o também aluno do Colégio Público Juventude em Luta.
As reivindicações sobre aumento salarial e aumento do salário mínimo são legítimas, para o aluno: “Estão a reivindicar os seus direitos porque eles deveriam ganhar mais”.
À Lusa, o diretor em exercício do Colégio Público n.º 1139 – Juventude em Luta, Miguel João, confirmou a paralisação das aulas na instituição que dirige, marcado por salas completamente vazias, dando nota que tiveram de orientar os alunos a regressar a casa devido à ausência dos professores.
“Estamos na prova do trimestre, acredito que, se a greve perdurar até sexta-feira retomaremos a prova na segunda-feira, mas espero que entrem em consenso e possamos reativar as provas”, defendeu o diretor da instituição de ensino do Distrito Urbano da Maianga.
A paralisação das aulas, observou o responsável, deve ter implicações no sistema de ensino e aprendizagem dos alunos: “Espero que os sindicatos e o Governo possam voltar às negociações para que as aulas reatem o mais rápido possível”, frisou.
Cartazes de greve geral também estão afixados no Instituto Médio de Economia de Luanda, no Instituto Médio Industrial de Luanda, no Instituto Médio Comercial de Luanda, na Escola Anangola e demais instituições de ensino.
Enfermeiros do Hospital Maternidade Lucrécia Paim, centro de Luanda, também aderiram à greve, garantindo serviços mínimos na urgência da unidade hospitalar.
Cartazes com as inscrições “Enfermeiros em Greve. Profissionais de enfermagem explorados, doentes e prejudicados” dão as boas-vindas aos pacientes e demais visitantes da maternidade.
Catumbela Cambila, secretário sindical da Maternidade Lucrécia Paim, confirmou a paralisação dos profissionais, tendo denunciado atos de coação por parte das direções hospitalares, recordando que a greve é de livre adesão.
Em declarações no banco de urgência da unidade hospitalar, o líder sindical deu conta que a adesão à greve no Lucrécia Paim é satisfatória, recordando que os serviços mínimos, sobretudo na urgência, “estão garantidos”.
Os familiares de pacientes ali internados receiam, no entanto, maior morosidade no atendimento, como disse Nadiana Manuel, 23 anos, que aguardava na parte exterior do hospital por informações sobre o estado de saúde da cunhada.
“Estamos aqui com a minha cunhada, foi transferida aqui no hospital, estamos à espera do atendimento, mas até agora não nos foi dada nenhuma notícia”, lamentou.
Esta greve geral na função pública, convocada pelas centrais sindicais, cuja primeira fase decorre até sexta-feira, também é extensiva a repartições públicas, sendo que funcionários da Administração do Distrito Urbano do Rangel também decidiram aderir.
Naquele departamento público estão apenas a ser garantidos os serviços mínimos, como confirmou Joaquina do Rosário, técnica da secretaria daquela repartição.
“Aqui a greve geral não abrangeu na totalidade, estamos a fazer entrega de alguns documentos que ficaram pendentes, como atestados de residência e de publicidade, são os serviços mínimos aqui na administração”, disse à Lusa, numa das secções onde Joaquina estava apenas a trabalhar com um colega.
A paralisação da função pública também é visível nas principais paragens em Luanda, que registam pouca afluência de pessoas, refletindo-se também na fluidez do trânsito automóvel, como reflexo de que muitos aderiram à greve.
Reportagem de Domingos Silvano da Silva (texto), da agência Lusa.