“Reformas muito difíceis” foram fundamentais para melhorar o rating de Angola

Agência de notação financeira Standard & Poor’s passou a qualidade do crédito soberano angolano de CCC+ para B-. Analista diz que Governo de Angola esteve “muito empenhado” e está agora a ver os “resultados” do programa.

A analista da agência de notação financeira Standard & Poor’s (S&P) que segue Angola defende que a implementação das reformas estruturais pelo Governo foi crucial para a melhoria do rating do país. Recentemente, a S&P passou a qualidade do crédito soberano angolano de CCC+ para B-.

“O Governo esteve muito empenhado no programa de reformas, [teve] um programa com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e vimos o Governo a implementar reformas muito difíceis. O impacto imediato foi muito duro para eles, porque a inflação subiu para dois dígitos em vários anos, e a pobreza é muito alta no país. A população sentiu alguma dor mas, do lado orçamental, estiveram muito empenhados em cortar a despesa e aumentar a base tributária, e estão a ver os resultados disso”, disse Zahabia Gupta em entrevista à agência Lusa, na qual admitiu que os anos eleitorais são sempre mais difíceis em termos quer de medidas reformistas, quer de manutenção do equilíbrio nas contas públicas. No entanto, salientou, essas dificuldades estão já incorporadas nas previsões.

“Há vários riscos nas reformas. Um é que o programa do FMI acabou, e servia de âncora política. Teremos de ver o empenho nas reformas sem o FMI este ano. O segundo risco é que há eleições, e isso cria pressão para uma despesa adicional. Vemos uma frente unida na oposição, com esporádicos protestos por causa da economia. Há a possibilidade de o Governo gastar mais para apaziguar a população, mas isso está embutido nas nossas previsões, isto é, antevemos algumas derrapagens, mas esperamos, no geral, que continuem as reformas para diversificar as fontes de receitas e a economia”, garantiu.

Sobre a possibilidade de Angola negociar com o FMI outro programa de ajustamento financeiro, depois dos 4,5 mil milhões de dólares (3,9 mil milhões de euros) recebidos nos últimos três anos, Zahabia Gupta afirma que isso não é provável. “O Governo não pediu outro programa. Em termos de necessidades de financiamento, as autoridades consideram que não precisam de mais fundos. Têm almofadas orçamentais suficientes em reservas externas e os preços do petróleo estão a 90 dólares por barril, apesar de a nossa estimativa ser de 75 dólares por barril para o conjunto do ano. Mas, a este nível, acham que não precisam de mais financiamento”, disse a analista.