Depois de perguntar à Europa qual o seu rumo, será relevante perguntar o mesmo a Portugal. Pela ordem natural das coisas, independentemente de tudo, a resposta é tendencialmente a mesma.

Igualmente verdade é que, historicamente, Portugal tende a estar na cauda da Europa em termos de avanços, tendências ideológicas e matérias culturais. Isto contrapõe realidades nacionais e quotidianos institucionais europeus que não estão em pé de igualdade; daí que seja importante ponderação, principalmente tendo em conta que nos encontramos numa sanduíche de eleições.

Importa compreender que as prioridades de um lado e do outro não são necessariamente as mesmas, quando as realidades dos intervenientes dos grupos partidários europeus são tão diversas. Se as posições dos nossos partidos nem sempre são equiparáveis às dos seus grupos, essa disparidade também se verifica nas preocupações-chave dos portugueses e dos restantes europeus.

Temáticas como as alterações climáticas, democracia e Estado de direito são prioritárias para os europeus, mas não tanto para os portugueses. A temática da migração e asilo, acima de tudo, é absolutamente crucial para praticamente um quarto dos europeus, mas apenas para 8% dos portugueses. Oitenta e dois por cento dos portugueses consideram que a Europa tem um impacto relevante no seu quotidiano e 88% concordam que é benéfico para Portugal ser membro da União Europeia. A média europeia para estas estatísticas é, respetivamente, 73% e 71%.

Portugal é um país quase desproporcionalmente europeísta; daí que, mais uma vez, seja importante compreender que estas eleições não são de carácter nacional. A nossa extrema-direita, por exemplo, é europeísta porque não tem hipótese para ser outra coisa qualquer – parte das suas propostas eleitorais para as legislativas baseava-se na utilização de fundos europeus –, mas o seu grupo europeu, o ID, é eurocético. Num país em constante necessidade de fundos de coesão e demais apoios, convém entender quem são os amigos, os inimigos e os inimigos dos amigos.

As eleições de junho são uma oportunidade histórica tanto para as forças democráticas como para as forças extremistas. O centro encontra-se cada vez mais sufocado e tudo indica que Portugal irá contribuir para isso. A quem vota de forma cega, pediria cautela. Portugal nunca poderá ser, nem estar, orgulhosamente só. O nosso rumo é o rumo de quem nos leva e eleva. O rumo europeu é o rumo que Portugal seguirá. Se cai Bruxelas, cai Lisboa.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais