United we stand, divided we fall. Por mais paralelismos que a história possa fazer, não se repetirá – pelo menos, não da mesma forma. As circunstâncias são diferentes das que as eram nas décadas iniciais do século passado e, mesmo que alguns atores tenham voltado aos grandes palcos num infeliz encore, o teatro já não é o mesmo.

A União Europeia é, mesmo na sua fase inicial, um dos grandes milagres do pensamento político pós-Segunda Guerra Mundial. Cumpriu excecionalmente o objetivo delineado por Schuman de tornar a guerra na Europa “não só impensável, como materialmente impossível” e evoluiu principalmente através da colaboração, que, entretanto, deixou de ser somente económica  e aduaneira, passando a ser também, quiçá principalmente, cultural e política. Ora, num mundo politicamente cada vez mais dividido, multipolar e coletivamente individual, a democracia é um castelo de cartas: para não cair, precisa da estrita colaboração de todos os envolvidos.

A Europa precisa de se adaptar à nova realidade.

A Pax Americana terminou e, com ela, terminou também o estado de graça. Tem de ser um bloco unido e determinado, que só acontecerá se a União se adiantar à ação dos Estados-membro. Tanta ânsia há de estar à frente da tendência para proteger a soberania, sacrificando a democracia, sem que se perceba que é a democracia que protege a soberania.

O ponto é exatamente este. Eurocéticos só conseguem crescer às custas das instituições que tanto querem descartar, mas que os sustentam. E tanto nos países pobres como nos países ricos, a verdade é apenas uma: o todo é muito mais do que a soma individual de partes que nunca podem ter precedente. Corremos o risco real de deixar que a Europa, enquanto um todo, definhe pelas suas franjas. Para isso, é preciso mudança.

A Europa pode decidir agir de uma de duas maneiras: ou caminha em prol da individualidade ou caminha em prol de maior integração, seja ela através de alargamento ou aprofundamento.

Independentemente dos avanços do Tratado de Lisboa, creio que urge uma atualização do seu conteúdo para a sobrevivência e evolução da Europa que conhecemos. Parece-me incongruente que se peça mudança estrutural profunda aos países candidatos, mas que se abandone essa preocupação com valores-chave com a Hungria ou, mais recentemente, com a Eslováquia. Assumindo o precedente da saída do Reino Unido, faria sentido uma medida (mesmo que altamente) excecional de expulsão de Estados-membro com repetido comportamento antidemocrático, antissistema e antieuropeísta. Arriscar-me-ia a dizer, até, que o critério tem de ser mais apertado para os membros da União do que para países de fora que, na realidade, não nos devem absolutamente nada.

Proteger os interesses de cada país é, acima de tudo, proteger a União Europeia. Para onde ela caminha, não vos consigo dizer. Tenho tanta influência no seu futuro como cada um de vós. Mas, para tudo ficar na mesma, muito tem de mudar.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais