A cibersegurança é hoje na política e na sociedade uma das principais preocupações e, com o avanço da tecnologia e da digitalização e a crescente interconectividade entre Estado, cidadãos e empresas, as ameaças ganharam uma dimensão sistémica que exige novas e estratificadas abordagens.
Desde logo, para combater o chamado “digital divide”, porque enquanto algumas entidades conseguem investir fortemente em cibersegurança e conseguem manter-se ciberresilientes, outras enfrentam dificuldades significativas e estão cada vez mais vulneráveis a ataques. Mas, o facto de sermos uma economia totalmente interligada, as vulnerabilidades de uns acabam, invariavelmente, por se transformar nas vulnerabilidades dos outros.
Neste contexto, uma das principais preocupações das políticas nacionais de cibersegurança deveria ser, precisamente, a mitigação das disparidades de recursos e capacidades entre as diferentes organizações e nos desafios que a relação entre umas e outras levanta. Na verdade, as grandes empresas e instituições governamentais têm capacidade para dedicar os investimentos e orçamentos necessários para a adoção de tecnologias avançadas de cibersegurança, para criar equipas especializadas e dar programas de formação frequentes às suas pessoas. Contudo, as pequenas e médias empresas, as organizações sem fins lucrativos ou governos locais são confrontados, muitas vezes, com recursos limitados e não são capazes de implementar as soluções necessárias para mitigar os riscos associados às ameaças cibernéticas, que estão em constante evolução.
O World Economic Forum, num relatório lançado em janeiro passado, sublinha que “apesar diálogo entre líderes de empresas e executivos de cibersegurança ter tido avanços importantes, a verdade é que persistem disparidades significativas entre países, indústrias e setores, que exigem atenção e colaboração permanentes.”
Ou seja, mesmo que as organizações mais preparadas e bem financiadas se tornem mais ciberresilientes, as que não conseguirem acompanhar esse movimento tornam-se alvos mais fáceis, pondo em risco não apenas a sua integridade, como podem contaminar o ecossistema económico em que se movimentam e, por consequência, porem em causa a segurança nacional e a estabilidade do país.
Estes desafios ganham relevância porque não existe nem coordenação nem cooperação suficientes entre o Estado e a economia e, mais difícil ainda, entre Estados, uma vez que cada vez mais as ameaças não reconhecem fronteiras e são feitas a partir de variadas jurisdições. Além disso, as ameaças já não são apenas aos sistemas, são também ao nível do conteúdo, um desafio que se torna ainda mais relevante com a utilização crescente de sistemas baseados em IA e em IA generativa. Acresce a isto, o facto de a procura por incrementos na cibersegurança entrar, muitas vezes, em conflito com os direitos de privacidade e liberdade de expressão, naquilo que é mais um dos equilíbrios desta complexa equação em que os esforços para desenvolver normas e acordos internacionais têm esbarrado em questões de soberania, interesses geopolíticos e rivalidades entre estados.
Faz falta, por isso, um compromisso coletivo e colaborativo entre governo, empresas e a sociedade civil para, juntos, enfrentarmos esse desafio e garantirmos um ambiente digital mais seguro e resiliente para o nosso futuro coletivo.
Um tema que, infelizmente, está arredado do discurso político e da campanha eleitoral, mas que deveria merecer a atenção dos nossos futuros dirigentes, porque o problema é realmente sério. Mas tem solução.
CEO da ETHIACK