Kamala Harris está em conversações finais para escolher o seu vice-presidente, com reuniões em Washington, D.C. desde sexta-feira e um prazo apertado para revelar o nome escolhido.
A decisão deverá ser conhecida na próxima semana, dado que a votação dos delegados para a sua nomeação, entretanto já assegurada, encerra na segunda-feira e o prazo para inscrever os nomes nos boletins de voto em Ohio é quarta-feira, 7 de agosto.
A lista de nomes para vice-presidente, segundo vários órgãos de comunicação, foi reduzida a seis: Josh Shapiro, governador da Pensilvânia; Mark Kelly, senador do Arizona; Tim Walz, governador do Minnesota; Andy Beshear, governador do Kentucky; Pete Buttigieg, secretário dos Transportes; e J.B. Pritzker, governador do Illinois.
A campanha arranca com comícios em Filadélfia e é esperado que Kamala Harris apareça já com o candidato escolhido para vice-presidente. A comitiva democrata passará depois por Wisconsin, Detroit, Raleigh, Phoenix, Las Vegas e Savannah.
São paragens em vários estados críticos que Harris terá de ganhar para conseguir a vitória nas presidenciais de 05 de novembro.
Segundo o consenso dos analistas políticos, a escolha de um vice-presidente não tem impacto significativo no sentido de voto dos eleitores. No entanto, uma vez que se espera uma corrida renhida com margens muito curtas, um mover dos ponteiros de apenas um ponto percentual pode fazer a diferença.
A cientista política luso-americana Daniela Melo explicou à Lusa que o candidato a vice-presidente selecionado por Kamala Harris terá a função de “equilibrar o ticket” com alguém que seja visto como moderado.
“Alguém que consiga falar para o eleitorado da classe branca operária, o eleitorado reformado, e que consiga mobilizar uma fatia suficientemente grande para poder vencer em swing states”, descreveu.
O foco tem estado sobretudo em Josh Shapiro, devido à necessidade de vencer a Pensilvânia, e em Mark Kelly, por ter forte credibilidade em matéria de imigração. No entanto, este último coloca um desafio: se for escolhido para vice-presidente, tem de abandonar o seu lugar no Senado e fazer o partido correr o risco de não voltar a vencer o mesmo assento, já que o Arizona é imprevisível.
Uma sondagem da Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research dá pistas sobre os nomes na lista final, mostrando que o reconhecimento nacional não é muito elevado. A pesquisa mostra que Mark Kelly é o nome mais reconhecido e que tem melhores índices de favorabilidade, apesar de cerca de metade do eleitorado não saber quem é.
Já Josh Shapiro goza de menor reconhecimento nacional (57% não sabem o suficiente para ter uma opinião sobre ele) mas é o mais popular na sua região: quatro em cada dez têm uma opinião favorável do governador da Pensilvânia.
Andy Beshear é praticamente desconhecido (70% não conseguem ter opinião sobre ele) e o mesmo acontece com Tim Waltz, (90% não sabem dizer o que pensam dele). Mas Waltz subiu em proeminência depois de ter usado a expressão “tipos esquisitos” para descrever a dupla Trump-Vance, entretando adotada pela campanha democrata.
A caracterização dos republicanos como esquisitos – weird no original em inglês – alastrou-se a outras personalidades à direita, sobretudo em matéria de costumes e devido às posições relativas a casamento, divórcio, sexualidade e religião.
Embora as pesquisas mostrem que a escolha do vice-presidente tem um efeito negligenciável, a controvérsia em torno das opiniões do republicano J.D. Vance, candidato a vice-presidente de Donald Trump, atraiu atenção negativa e o processo inédito de ascensão de Kamala Harris está a gerar mais expectativa em torno da sua decisão.
Os analistas apontam frequentemente para algumas das raras escolhas de vice-presidente que tiveram efeitos visíveis, positivos e negativos: uma delas foi Lyndon B. Johnson como vice-presidente de John F. Kennedy, em 1960, que terá permitido a vitória no Texas. A outra foi Sarah Palin como vice de John McCain, no embate contra Barack Obama, em 2008, que suscitou dúvidas sobre a tomada de decisões do republicano.