Quase metade das pessoas que contraíram o vírus da imunodeficiência humana (VIH) em 2023 vivia na África Subsariana, região que, em contrapartida, regista o maior declínio (56%) de novas infeções desde 2010, anunciou hoje a ONUSIDA.

A África Oriental e Austral continuam a ser as regiões mais afetadas em todo o mundo: 20,8 milhões de pessoas vivem com VIH, 450.000 foram infetadas no ano passado e 260.000 morreram, de acordo com o relatório “A urgência do agora – A SIDA na encruzilhada”, lançado hoje em Munique, na Alemanha, pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA, por ocasião da 25.ª Conferência Internacional sobre a SIDA, que decorre naquela cidade alemã.

Estigma, discriminação, e mesmo criminalização, nomeadamente em países africanos como o Uganda, o Gana e outros, de que são alvo certos grupos de pessoas, impedem os progressos no combate à pandemia, porque as suas vítimas não podem procurar ajuda e tratamento em segurança.

A nível mundial, a prevalência média do VIH entre os adultos com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos era de 0,8% em 2023. Na África Oriental e Austral, a prevalência é de 2,3% entre as mulheres jovens e as raparigas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, de 7,7% entre os homossexuais e outros homens que praticam sexo com homens, de 3% entre os trabalhadores do sexo, de 5% entre os consumidores de drogas injetáveis, de 9,2% entre as pessoas transexuais e de 1,3% entre as pessoas na prisão.

Outro dos problemas isolados no relatório é o do uso do preservativo, o instrumento de prevenção do VIH mais eficaz e de baixo custo, mas também a única tecnologia que oferece uma tripla proteção contra a gravidez indesejada, VIH e infeções sexualmente transmissíveis.

Não obstante, a utilização do preservativo durante as relações sexuais com um parceiro não regular é pouco frequente – cerca de 36% dos adultos na África Oriental e Austral e 25% na África Ocidental e Central utilizaram um preservativo na última relação sexual – e tem vindo a diminuir nas duas últimas décadas, descreve-se no relatório.

Estudos das Nações Unidas mostram que o uso do preservativo entre as mulheres é esporádico: em 16 dos 21 países da África Subsariana com dados disponíveis, menos de metade das mulheres com idades entre os 15 e os 49 anos afirma ter usado um preservativo na última relação sexual com um parceiro não regular.

Os parceiros masculinos mostraram-se mais propensos a dizer que tinham utilizado um preservativo em circunstâncias semelhantes, embora os níveis comunicados da sua utilização fossem inferiores a 50% em seis países – Angola e Moçambique, República Democrática do Congo, Gana, Papua Nova Guiné e Tanzânia.

Entre 23 países da África Subsariana com dados relativos a, pelo menos, dois momentos entre 2010 e 2022, apenas nove países revelaram um aumento do uso de preservativos entre rapazes adolescentes e homens jovens e apenas três revelaram um aumento do uso de preservativos entre raparigas adolescentes e mulheres jovens. Em todos os outros países, a proporção de jovens que usam preservativos estava a diminuir, o que leva a ONU a sublinhar que “existe um forte risco de os preservativos estarem a cair nas prioridades dos programas de VIH”.

Em termos globais, embora os números para 2023 mostrem uma melhoria em todo o mundo, a agência das Nações Unidas salienta que a pandemia já matou mais de 42 milhões de pessoas e que este progresso continua a ser frágil. Em 2023, pouco menos de 40 milhões de pessoas viviam com o VIH, de acordo com o relatório. Cerca de 1,3 milhões de pessoas foram infetadas no ano passado, menos 100.000 do que no ano anterior.

Este número é 60% inferior ao pico registado em 1995, quando 3,3 milhões de pessoas foram infetadas com o VIH. Não obstante, a ONUSIDA sublinha que o objetivo de apenas 330.000 infeções até 2025 parece inatingível.

A SIDA também está a matar muito menos pessoas: 630.000 mortes em 2023, em comparação com 670.000 no ano anterior. Este número é também 69% inferior ao registado em 2004, o ano negro da pandemia.

O acesso à terapia antirretroviral, apesar de altamente eficaz, mantém-se como o maior desafio no combate à pandemia. No final de dezembro de 2023, 30,7 milhões de pessoas tinham acesso a uma destas terapias, em comparação com apenas 7,7 milhões em 2010, mas este número ainda está aquém do objetivo para 2025, de 34 milhões de pessoas. Quase um quarto das pessoas infetadas com o vírus não recebe tratamento.

Winnie Byanyima, diretora executiva da ONUSIDA, sublinhou hoje, numa conferência de imprensa, em Munique, que “existe um défice de financiamento significativo que está a travar a resposta ao VIH nos países de baixo e médio rendimento”.

A Comissão Europeia estima este défice em 9,5 mil milhões de dólares por ano. A este facto acresce o peso da dívida pública, que obriga muitos países pobres a escolher entre o pagamento da dívida e as despesas de saúde, por exemplo.