Não é novidade para ninguém que, nos últimos anos, a emigração jovem tem sido alarmante em Portugal. E não se trata de uma mera perceção, é uma realidade confirmada por dados do Observatório da Emigração. De acordo com a sua última estimativa, 30% dos nascidos em Portugal com idades entre os 15 e os 39 anos deixaram o país em algum momento e atualmente vivem no exterior. No total, os números já apontam para mais de 850 mil.

Se quisermos ir ainda mais detalhe, também temos, por exemplo, os dados da Associação Académica de Coimbra que, recentemente, revelou que perto de 70% dos estudantes da Universidade têm intenção de emigrar no futuro. Mais: 40% pensa abandonar Portugal nos próximos cinco anos e cerca de 30% na próxima década.

As motivações até podem divergir, mas a procura de melhores oportunidades profissionais e de melhores condições de vida estão no topo das prioridades de quem decide deixar o seu país e viver noutra geografia.

Não há dúvida que é uma tendência preocupante pelo que representa em termos de perda de capital humano para Portugal e pelo risco de estarmos a hipotecar o futuro do país. Mas também levanta questões interessantes sobre o importante papel que as empresas de recrutamento podem, e devem, desempenhar ao contribuírem para uma integração profissional sem constrangimentos e, acima de tudo, segura e fidedigna, no país de acolhimento.

O foco das empresas de recrutamento deve ser oferecer soluções aos jovens, regra geral, altamente qualificados, que abraçam o desafio de trabalhar e viver fora de Portugal. Isto porque, por muito tentador que seja, limitarmo-nos a lamentar a “fuga de talentos” não é opção.

Perante uma evidência que só medidas políticas podem contrariar, cabe a empresas, encarar o recrutamento internacional como uma forma para prestar a melhor experiência e as mais interessantes oportunidades de carreira aos nossos jovens. Com o know how e o networking que possuem, as empresas com serviços internacionais de recrutamento podem conectar os jovens portugueses, com oportunidades de trabalho em todo o mundo.

Esta abordagem ao recrutamento internacional, além de ajudar a satisfazer as aspirações dos jovens candidatos, é também a pedra basilar para construir e desenvolver uma rede global de talento, com raízes em Portugal.

Por outro lado, a par da saída de Portugal dos jovens que procuram oportunidades além-fronteiras, é importante lembrar a existência de um movimento inverso, ou seja, a entrada no país de profissionais qualificados de diferentes nacionalidades. As lacunas deixadas pelos primeiros, abrem caminho para a entrada dos segundos. Um movimento que as empresas e instituições portuguesas podem ver como uma oportunidade para, através do recrutamento internacional, garantirem uma força de trabalho diversificada e talentosa.

Mais uma vez, o papel das empresas de recrutamento e a sua abordagem equilibrada e holística é crucial. Por um lado, como referi anteriormente, podem apoiar os talentos portugueses nas suas aspirações profissionais. Por outro, trabalham para atrair talento estrangeiro e, assim, contribuir para o desenvolvimento económico e social do nosso país.

O desafio é grande e também envolve políticas públicas que promovam uma mobilidade justa e equitativa para todos. É imprescindível um esforço coordenado entre todas as partes envolvidas neste movimento migratório profissional, global, para valorizar a educação e a formação contínua, garantindo que Portugal mantém uma força de trabalho qualificada e competitiva.

Seja qual for o sentido da movimentação da mão de obra jovem, as empresas de recrutamento podem e devem fazer parte da solução.

Nuno Neves, CEO da Precise