A prática de desporto regular, como forma de promover a saúde, é por muitos   comparada a um poderoso “medicamento” à disposição do ser humano. De forma crescente a “prescrição” de exercício físico tornou-se uma realidade, adaptado às características únicas de cada indivíduo. Associada à prática desportiva surgem inevitavelmente lesões do chamado sistema osteoarticular. A prevenção e o tratamento evoluíram muito nas últimas décadas, permitindo na maioria dos casos a retoma da prática desportiva sem limitações, incluindo a nível profissional.

Todos os componentes do chamado sistema locomotor podem estar sujeitos a danos provocados pela prática desportiva, nomeadamente o osso, a cartilagem, os músculos e os tendões. Relativamente às causas, as lesões desportivas são geralmente classificadas como traumáticas agudas ou de “sobreuso”.

As primeiras são provocadas geralmente por um traumatismo, direto ou indireto, que leva à perda de integridade de uma estrutura anatómica, como por exemplo uma rotura do ligamento cruzado anterior ou uma luxação do ombro. Já as lesões de “sobreuso” são provocadas pela utilização excessiva de determinada estrutura ou sistema fisiológico, do corpo, em termos de intensidade ou de duração, levando à sua falência estrutural e funcional, como é o caso da “tendinite” ou da fratura de stress. Tendo em consideração esta classificação, torna-se mais fácil perceber que muitos dos tratamentos são comuns ao tipo de lesão.

As lesões de excesso de uso acontecem geralmente quando uma estrutura é forçada para além daquilo para que está preparada. O caso mais comum é o das “tendinites” – seja o “cotovelo de tenista”, nos extensores do punho, em praticantes de desportos com raquetes, seja a “tendinite do Aquiles” em grande parte dos desportos que envolvem corrida. A sobrecarga do tendão provoca inflamação e lesões estruturais locais. A manifestação inicial é a dor, que quando não tratada pode levar à incapacidade para a prática da modalidade, por alterações crónicas nos tendões.

O tratamento deve envolver, numa fase inicial, gelo local e medicação anti-inflamatória. Progressivamente, devem ser realizados alongamentos dos tendões envolvidos e, se possível, exercícios chamados “excêntricos”, aqueles em que o músculo alonga enquanto está a contrair. Igualmente importante é a alteração do plano de treino, com sessões mais espaçadas, mesmo que mais intensas, assim como a avaliação do material desportivo em utilização – ténis, raquetes… – de forma a verificar se pode estar a facilitar a manutenção do quadro clínico.

É sempre aconselhada a procura de um profissional da área, já que muitas vezes a fisioterapia ajuda na resolução destes problemas.

Sendo o osso a estrutura afetada, são comuns as fraturas de stress no membro inferior. As mais comuns, as canelites, na face anterior da tíbia, começam também como um processo de sobrecarga, podendo terminar numa fratura. As mesmas medidas aplicadas às “tendinites” costumam resultar, apesar de nestas situações poderem ser necessários períodos de repouso mais prolongados.

Por último, um tipo específico de lesões de excesso de uso são as roturas musculares. Mais comuns no membro inferior, surgem mais frequentemente em períodos de excesso de utilização. Aqui é essencial um aquecimento prévio à atividade desportiva, como prevenção do aparecimento. Depois de instalada, o pior inimigo da recuperação é o regresso cedo demais à atividade desportiva, com a lesão a reaparecer. Por esse motivo, apenas atletas totalmente assintomáticos e com força simétrica entre ambos os membros devem considerar retomar o seu desporto favorito.

Em relação às lesões traumáticas agudas, o seu tratamento está dependente da região do corpo e da gravidade da lesão. Uma das lesões mais comum, a entorse do tornozelo, é habitualmente tratada com imobilização elástica, aplicação de gelo local, descarga parcial e utilização de anti-inflamatórios orais ou tópicos. Casos mais graves necessitam de fisioterapia e, por vezes, tratamento cirúrgico. Já lesões como a rotura do ligamento cruzado anterior no joelho, ou a chamada luxação recidivante do ombro, quando presentes em atletas, necessitam grande parte das vezes de tratamento cirúrgico, de forma a restituir a função da articulação lesada.

Independentemente do tipo de lesão, a possibilidade da sua existência não deve nunca fazer ponderar desistir de praticar exercício físico. Os benefícios do exercício suplantam grandemente os riscos, sendo que a maioria das lesões pode ser prevenida e tratada adequadamente, devendo apenas ser encaradas como “ossos do ofício”.