PSD retira confiança a Pinto Moreira

Luís Montenegro garantiu que PSD “não compactua” com corrupção democrática e revelou que partido vai investigar candidaturas às eleições autárquicas e que actuará disciplinarmente se houver ilegalidades.

Luís Montenegro vai retirar a confiança política ao deputado Joaquim Pinto Moreira e anunciou a abertura de uma sindicância interna às eleições autárquicas de 2017.

O presidente do PSD explicou, em conferência de imprensa, que o deputado Pinto Moreira “não vai expressar a voz do PSD” quando assumir de novo o mandato de deputado, como fez já saber ser a sua intenção.

Pinto Moreira tinha suspendido o mandato no final de Janeiro, depois de ter sido constituído arguido no âmbito da Operação Vórtex, em acordo com a direcção do partido, mas anunciou na passada semana o regresso sem avisar Montenegro.

A direcção do PSD não gostou de ser apanhada de surpresa e reuniu-se hoje para decidir, e, por proposta do próprio líder, o núcleo duro de Montenegro decidiu retirar a confiança a Pinto Moreira, que fica numa espécie de limbo na bancada – uma decisão que pode abrir uma brecha e uma tensão, ou até mesmo conflito aberto entre a bancada laranja, escolhida por Rui Rio, e a direcção social-democrata. Montenegro fez questão de explicar que a decisão do PSD é puramente política e ética e não fere princípios constitucionais como a presunção da justiça.

Outra decisão tomada também em matéria judicial, mas que Montenegro garantiu ter a ver apenas com uma questão política, está relacionada com a Operação Tutti Frutti, em que existem suspeitas de troca de favores entre PS e PSD. Sobre esta matéria, que envolve nomes do PSD, um deles deputado, Montenegro anunciou que vai dar indicações ao conselho de jurisdição do partido para que seja aberta uma “sindicância interna” às candidaturas autárquicas do PSD em 2017, para apurar se houve corrupção ou favores. E prometeu medidas disciplinares se forem apuradas irregularidades.

O líder do PSD aproveitou estes dois casos para fazer campanha eleitoral, afirmando que PS e Governo deviam fazer o mesmo, e não esconder-se atrás do jargão “à política o que é da política, à justiça o que é da justiça”.

Ainda em tom de campanha, o líder laranja voltou a criticar duramente o governo PS para assegurar aos portugueses que o PSD “é a única alternativa” ao socialismo. Começou o apelo ao voto útil, que o ex-Presidente Cavaco Silva tinha pedido como táctica para o partido.

Montenegro explicou que o facto de as questões terem uma natureza judicial não invalida que se possam “tirar ilações políticas”. Adiantou que não está a fazer “um juízo de censura” a Pinto Moreira ou aos nomes envolvidos na Operação Tutti Frutti, querendo apenas impedir que o PSD contribua “para a degradação” da vida política.

“Não compactuaremos com a corrupção democrática e seremos intransigentes”, avisou, anunciando ainda que vai propor, no processo de revisão estatutária, a elaboração de um código de ética para dirigentes partidários, bem como não fazer depender a capacidade activa do pagamento das últimas duas quotas. “O PSD, por via da sua direcção política e parlamentar, não se deixa condicionar por suspeitas”, rematou.