PSD e CDS elogiaram hoje a ação desenvolvida pelas forças e serviços de segurança para a reposição da ordem pública em várias zonas da periferia de Lisboa e condenaram extremismos e aproveitamentos políticos da situação.

Estas posições foram transmitidas por Hugo Soares e João Almeida, no parlamento, sobre os desacatos que têm ocorrido desde segunda-feira em várias zonas da área metropolitana de Lisboa, designadamente Carnaxide (Oeiras), Casal de Cambra (Sintra) e Damaia (Amadora), após Odair Moniz, de 43 anos, ter sido baleado por um agente da PSP.

Hugo Soares deixou primeiro uma “palavra de solidariedade a todos os moradores dos bairros que estão a ser afetados pelos desacatos que têm acontecido nos últimos dias, com perturbação da paz e da ordem pública”.

“Não confundimos nem generalizamos aqueles que são os atores destes desacatos, que devem ser chamados à lei e à justiça, com os moradores destes bairros – pessoas que querem continuar a sua vida, pessoas que vivem em Portugal e que querem, evidentemente, paz e segurança à volta das suas casas”, acentuou.

O presidente do grupo parlamentar social-democrata considerou a seguir que “as forças e os serviços de segurança atuam sempre no quadro da legalidade” e “sempre que há excecionalidades elas devem ser investigadas” – uma alusão à situação do agente da PSP que baleou mortalmente e que já foi constituído arguido.

“Mas este é o momento de prestar a nossa gratidão às forças e os serviços de segurança que estão no terreno a acautelar a segurança, a paz pública, a ordem e a reposição das condições de normalidade”, afirmou.

A seguir, o líder da bancada social-democrata condenou tentativas de aproveitamento político deste caso.

“A responsabilidade de quem tem funções públicas e políticas, de quem representa a órgão de soberania, como é a Assembleia da República, não deve ser compaginável com declarações como aquelas que temos ouvido. É realmente verdade aquilo que muitas vezes se diz e que eu queria aqui repetir: Os extremos políticos tocam-se, efetivamente”, disse, numa crítica indireta dirigida a representantes do Bloco de Esquerda ou do Chega.

João Almeida falou aos jornalistas imediatamente a seguir ao líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, e reagiu: “Assisti, aqui, a declarações que nunca tinha visto num órgão de soberania para se incitar à violência e ao ódio”.

“É exatamente isso que um político não deve fazer. Um político deve ter a serenidade de perceber que o que temos de fazer é manter o distanciamento para podermos proteger as populações e agir de uma forma responsável. Os irresponsáveis podem falar muito alto, mas não têm razão”, declarou.

Perante os jornalistas, João Almeida salientou que se tem assistido a “atos de vandalismo inaceitáveis” e adiantou que aqueles que contribuíram para esses atos “devem ser severamente punidos”.

“Quem, neste momento, tendo responsabilidades políticas, faz discursos inflamados – seja em que sentido for -, estigmatizando aqueles que estão envolvidos na situação, generalizando situações que não são generalizáveis, é responsáveis por aquilo que está a acontecer e é responsáveis pela dificuldade que as forças de segurança têm no terreno para repor a ordem pública”, acusou o deputado do CDS.

Pela parte do CDS, segundo João Almeida, ninguém contribuirá “para alimentar aquilo que, neste momento, obviamente, só interessa a quem seja extremista e a quem não defenda, em primeiro lugar, a lei e a ordem – algo que, para nós, é essencial e que defenderemos sempre como prioritário”.

“Considero que, quando há extremos, estão todos do mesmo lado, estão do lado da desordem e, portanto, não caracterizo os extremos que são deste ou se são daquele lado”, acrescentou.

Odair Moniz, de 43 anos e morador no Bairro do Zambujal, na Amadora, foi baleado por um agente da PSP na madrugada de segunda-feira, no Bairro da Cova da Moura, no mesmo concelho, e morreu pouco depois, no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa.

Segundo a PSP, o homem pôs-se “em fuga” de carro depois de ver uma viatura policial e “entrou em despiste” na Cova da Moura, onde, ao ser abordado pelos agentes, “terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”.

A associação SOS Racismo e o movimento Vida Justa contestaram a versão policial e exigiram uma investigação “séria a isenta” para apurar “todas as responsabilidades”, considerando que está em causa “uma cultura de impunidade” nas polícias.

A Inspeção-Geral da Administração Interna abriu um inquérito urgente e também a PSP anunciou um inquérito interno, enquanto o agente que baleou o homem foi constituído arguido.

Desde a noite de segunda-feira foram registados desacatos no Zambujal e, já na terça-feira, noutros bairros da Área Metropolitana de Lisboa, onde foram queimados dois autocarros, automóveis e caixotes do lixo, e detidas três pessoas. Dois polícias receberam tratamento hospitalar devido ao arremesso de pedras e dois passageiros dos autocarros incendiados sofreram esfaqueamentos sem gravidade.