Álvaro Santos Pereira alertou esta quarta-feira que os governos, incluindo o de Portugal, vão ter de manter a prudência nos gastos e controlar o défice, numa altura em que a atividade económica está a desacelerar devido às subidas das taxas de juro impostas pelos bancos centrais para combater a inflação.

Foi um recado do ex-ministro da Economia de Pedro Passos Coelho para o primeiro-ministro, António Costa, e o ministro das Finanças, Fernando Medina.

“Vejo muito poucos países com margem” orçamental, disse, apontando até o caso do Peru que, com 34% de dívida sobre o PIB, não tem margem.

“Este ano e no próximo vai haver muita pressão para a inflação ficar persistente. A prudência fiscal vai ter de ser mantida, não só neste país [Portugal], mas em todos os países”, afirmou o diretor do Departamento de Economia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

“Não vejo governos a gastarem imenso. Na Europa há fundos estruturais que tentam apostar no investimento… se houver implementação desses fundos”, destacou, referindo-se à necessidade de aplicar os fundos do PRR.

As declarações tiveram lugar no painel “O mundo em 2024”, na conferência Outlook 2024 — que marca o 7.º aniversário do Jornal Económico –, que decorre esta quarta-feira em Cascais.

Fazendo uma comparação entre o impacto da inflação e o da crise das dívidas soberanas, há uma década, nos salários, Álvaro Santos Pereira foi perentório. “Não tivemos, com a exceção da Grécia, uma descida tão acentuada dos salários reais como tivemos com a inflação. Não quer dizer que nos próximos anos não haja uma recuperação dos salários.”

Para controlar a inflação, o economista deixou o seu diagnóstico: “A única maneira mais eficiente que temos para controlar a inflação passa, primeiro, pela ação dos bancos centrais.”

Sobre a atuação do BCE, Fed e outras instituições monetárias, considera que os “bancos centrais vão continuar a ser conservadores. A política orçamental depende do pais, se há ou não margem” para atuar.