O Presidente cabo-verdiano defendeu esta quarta-feira, 25 de setembro, na Assembleia Geral das Nações Unidas, a restituição de bens culturais a África e outras regiões do mundo para preservação da cultura e espiritualidade local.
“Para África, mas também para muitas outras regiões do mundo, é de vital importância a restituição de bens culturais, como artefactos, obras de arte e objetos sagrados, parte integrante da identidade cultural, história e tradições das comunidades de onde são originários”, disse José Maria Neves.
O chefe de Estado argumentou que a restituição “permite a preservação da sua integridade cultural e espiritual, à medida que são devolvidos aos seus ambientes originais”, permitindo que as comunidades locais voltem a ligar-se ao seu património, fortalecendo “o orgulho cultural” e cuidando da sua identidade “para as gerações futuras”.
Cultura e identidade serão temas na agenda de um evento cuja preparação está em curso e que José Maria Neves revelou no discurso de hoje.
“Apraz-me anunciar que, em 2025, realizaremos, em Cabo Verde, um encontro de alto nível dedicado ao tema da crioulidade atlântica, com a participação de académicos, historiadores, cientistas sociais, estudiosos das línguas crioulas, artistas”, entre outros.
Também estarão presentes líderes mundiais, para debater “uma construção da qual fizeram parte integrante os africanos e seus descendentes”, fruto de uma “realidade complexa e riquíssima, resultado da relação humana tecida entre povos” no decurso “das navegações oceânicas iniciadas no século XV”, acrescentou.
O evento pretende potenciar os resultados de projetos como a Rota do Escravo, a Década dos Afrodescendentes e a Conferência das Nações Unidas sobre Racismo, realizada em Durban (África do Sul), em 2001, acrescentou José Maria Neves, esperando que seja também um espaço de diálogo para a paz.
No seu discurso de cerca de 15 minutos, no final da sessão da manhã da 79.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Presidente cabo-verdiano fez ainda apelos à paz e à prevenção das alterações climáticas, reivindicando respeito pelos compromissos em travar a emissão de gases com efeito de estufa.
As novas tecnologias podem ajudar a encontrar soluções para fazer face à subida do nível do mar e à acidificação dos oceanos, mas os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS, sigla inglesa) precisam de apoio do resto do mundo, disse.
Sobre tecnologias, José Maria Neves salientou, noutro ponto, que há uma “oportunidade única” de “erradicar doenças, evitáveis e tratáveis, que há muito atormentam a humanidade”.
“Para se atingir tal meta, lanço um apelo para que durante a reconstituição do Fundo Mundial IDA21, em Paris, no próximo mês, seja incluído um fluxo de financiamento dedicado à eliminação de doenças”, apelou.
O IDA-21 é um mecanismo de financiamento do Banco Mundial destinado a promover o desenvolvimento e acabar com a pobreza.
O debate de alto nível da UNGA79 arrancou terça-feira, em Nova Iorque, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo, e irá prolongar-se até ao próximo dia 30.