Paulo Raimundo acusou o Governo de dar “mais uma machadada” no SNS ao avançar com a criação de Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo C, geridas pelos setores social e privado.
“Eu acho que o Governo tem dialogado com as pessoas erradas, porque o Governo teve de dialogar com alguém para tomar as decisões que tomou a semana passada, de dar mais uma machadada no SNS com as opções que fez de privatizar, na prática, uma parte dos centros de saúde”, afirmou o secretário-geral comunista.
O líder do PCP defendeu que o Governo deveria dialogar mais com os utentes, enfermeiros e médicos de modo a “responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde”, em vez de dialogar “com os grupos económicos daqueles que fazem da doença um negócio”.
Para Raimundo, a solução dos problemas do SNS passa por fixar profissionais de saúde e “para isso é preciso uma opção política com esse objetivo”. “Coisa que não temos tido, pelo contrário”, acrescentou.
“O que temos tido é um Governo que, no seguimento do Governo anterior e de forma muito acelerada, tem procurado o desmantelamento do Serviço Nacional de Saúde, retalhá-lo e fazer de cada um dos problemas em concreto que o SNS enfrenta mais um negócio”, criticou.
O Governo aprovou na semana passada a criação de Unidades de Saúde Familiar geridas pelos setores social e privado, prevendo-se que abram 20 em Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Leiria, zonas carenciadas de médicos de família.
O anúncio foi feito hoje pela ministra da Saúde em conferência de imprensa, adiantando que a criação de Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo C, geridas pelos setores social e privado, está previsto no Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, mas nunca foi implementada.
Questionado sobre se greves recentemente anunciadas em setores como a saúde e a educação são um sinal de um aumento de contestação às políticas do executivo, Paulo Raimundo afirmou que, embora o Governo seja “altamente qualificado no que diz respeito à propaganda e à ilusão, (…) não há propaganda que permita, para todo o sempre, apagar a realidade”.
“A realidade da vida das pessoas é que as pessoas estão a viver mal. As pessoas sentem uma injustiça profunda, dificuldades no dia a dia, nos salários, nas pensões, no acesso ao Serviço Nacional de Saúde, o drama da habitação que continua com tudo o que isso implica nos sacrifícios de cada um”, acrescentou.
Em declarações após o encontro com o secretário-geral do PCP, Joana Bordalo e Sá, presidente da FNAM, explicou que está a ser feita uma ronda de encontros com todos os partidos com representação parlamentar para apresentar a posição daquela estrutura sobre “o estado da situação do SNS” e criticou a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirmando que o Governo “acabou por decidir não negociar verdadeiramente com os médicos”.
A FNAM convocou uma greve para 24 e 25 de setembro e Joana Bordalo e Sá garantiu que para esta ser evitada tinha que estar a haver já uma “negociação que fosse séria” em que fossem adotadas as “soluções concretas que os médicos têm vindo a apontar”.
“Tendo em conta a postura e as políticas desastrosas deste Ministério da Saúde de Ana Paula Martina, a greve vai mesmo acontecer”, assegurou.