Mariana Mortágua acusou hoje os líderes dos partidos de direita de oferecerem um “espetáculo miserável e degradante” à volta do Orçamento do Estado para 2025 e considerou ser incompreensível “a ambiguidade” do secretário-geral do PS.

“E perante este Orçamento que nós já conhecemos, e que já podemos ler, e perante o miserável espetáculo, degradante espetáculo, que os responsáveis da direita nos estão a oferecer acerca deste Orçamento, todos eles, da Iniciativa Liberal, do Chega, do PSD, um miserável e degradante espetáculo, a única coisa que falta compreender é por que é que o secretário-geral do PS continua a manter ambiguidades relativamente ao Orçamento”, afirmou a coordenadora do Bloco de Esquerda.

Mariana Mortágua deixou também críticas a Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de estar a prestar “um mau serviço” ao país com a “chantagem permanente” de eleições caso o Orçamento do Estado para 2025 não seja aprovado.

Para Mortágua, a proposta de Orçamento do Estado apresentada é a de um “orçamento mau” porque vai beneficiar os mais ricos e não vai resolver problemas como o da habitação ou os problemas na Saúde.

“O que eu gostaria de dizer é uma coisa que talvez vos surpreenda, que é explicar por que é que este Orçamento do Estado é mau, não deve ser aprovado. Ele entrega fatias, fatias do dinheiro do Orçamento e de recursos públicos ao setor privado da Saúde, às seguradoras, a serviços privados que estão a substituir o público e a tirar capacidade de responder”, disse.

E continuou: “É um mau orçamento porque vai rebentar com o Serviço Nacional de Saúde, vai aumentar o preço da habitação, porque não responde aos sapadores, porque cria regimes fiscais injusto que privilegiam os mais ricos, as elites, os futebolistas e as grandes empresas”,

Sobre a aprovação ou não do Orçamento do Estado e as consequências, entre as quais a realização de eleições legislativas antecipadas, Mariana Mortágua alertou para o uso do ato legislativo como uma arma de arremesso: “É perigosa a forma como as eleições têm sido apresentadas ao país como uma ameaça”.

“Nós não podemos, nem devemos, transformar o maior ato da democracia e o mais importante ato da democracia como uma permanente ameaça à democracia e uma permanente chantagem”, defendeu.

Para o Bloco de Esquerda, “as eleições não podem ser uma chantagem, são uma solução quando não há outra solução e são uma solução porque são a escapatória da democracia e estar permanentemente a dizer às pessoas e a usar as eleições (…) como uma chantagem e uma ameaça é um mau serviço ao país”.

Neste sentido, a coordenadora do Bloco deixou criticas a Marcelo Rebelo de Sousa: “Na verdade, é um mau serviço ao país que fez o Presidente da República com estas chantagens permanentes sobre se o Orçamento não for aprovado há eleições, as eleições são um desastre, se o Orçamento não for aprovado, tudo acontece”.

“Há muita dramatização sobre este processo que tem muito pouco de real e é um espetáculo um pouco degradante que visa chantagear, manipular as decisões das pessoas”, alertou.

Questionada sobre se considera que as eleições são o caminho caso o Orçamento do Estado não seja aprovado, Mortágua não disse que sim, nem que não, e afirmou que o “acontece perante um Orçamento chumbado depende do Presidente da República e do primeiro-ministro”.

“Se me pergunta a mim se eu acho que esta governação de direita, se esta relação incompreensível e este espetáculo degradante da disputa entre os vários partidos de direita e dos seus interlocutores e responsáveis é capaz de garantir alguma estabilidade ao país, acho que não. Se me pergunta se eu tenho medo de eleições e se acho que as eleições são um papão na democracia, também acho que não”, salientou.

Sobre o protesto dos Bombeiros Sapadores, que dura há 41 dias, Mariana Mortágua defendeu que a situação daqueles profissionais não é compreensível: “Estes bombeiros têm a caricata situação de pagarem mais pelos seguros das suas casas, porque têm profissões de risco, mas o Estado não lhes reconhece uma profissão de risco e não lhes paga o subsídio adequado”.

“É uma situação incomportável, que é óbvio que humilhou, humilha estas pessoas e que levou os sapadores a protestos que são mais do que compreensíveis e do que justos”, considerou.

Mariana Mortágua reconheceu que os Sapadores têm “uma profissão de risco e toda a gente compreende que é de risco” mas, salientou, “não têm nem uma carreira nem um salário adequado à sua profissão”.

“Estes bombeiros recebem muito pouco mais do que o salário mínimo nacional e à medida que o salário mínimo foi subindo eles foram perdendo o subsídio de risco que era parte do seu salário”, disse.

Para a líder do Bloco de Esquerda, as reivindicações dos Sapadores são justas: ”Ter uma carreira que lhes permita progredir e ter uma expectativa sobre o que vai ser o futuro, ter um salário digno e um subsidio de ressico adequado às suas funções, que toda a gente entende que são de risco, e poder voltar a um regime de reforma adequado às funções que estão a desempenhar”.

Um grupo de Sapadores do Porto e de Vila Nova de Gaia está em protesto em frente à câmara do Porto há 41 dias, estando marcada para terça-feira uma “grande concentração” que deverá assinalar o fim do protesto.