Tocou o tambor socialista, acabou a independência.
Ao entrarmos em pré-campanha eleitoral, entramos também no período de glorificação da governação calamitosa do Partido Socialista. Começou a venda da independência e da integridade pessoal.
Ver figuras ditas moderadas e independentes como Álvaro Beleza, Francisco Assis ou Sérgio Sousa Pinto, que sempre criticaram a governação de António Costa, a apoiar Pedro Nuno Santos não tem outra descrição senão deprimente.
Não se trata apenas da minha opinião política, mas da total incoerência destas personalidades que, após anos de críticas, decidem simplesmente apoiar o candidato que sabiam ter maior probabilidade de ganhar as eleições internas no PS, garantindo, deste modo, o seu lugar na cúpula política. Chegámos à mudança de turno no PS e, aparentemente, o que importa é garantir a relevância para manter o comentário na TV ou o lugar de deputado.
Como é que, depois de tudo o que disseram e de tudo o que escreveram, é possível terem a audácia de apoiar Pedro Nuno? O ministro infantil que meteu água com a TAP, com o aeroporto, com a CP, com a habitação e, agora, até com os CTT. Pedro Nuno, o homem que diz que teve uma empresa e, portanto, fala olhos nos olhos com os empresários, é também o homem que, quando a mesma empresa fundada pelo pai foi acusada de ter contratos de ajuste direto com o Estado, afirmou que tinha apenas 1% da mesma e estava totalmente afastado. Afinal, sabe o que é gerir uma empresa ou aprendeu no almoço familiar de domingo entre reuniões da Juventude Socialista?
Nas entrelinhas, falamos em carisma e na sua importância. Se, por um lado, sim, concordo que é importante ter carisma para ganhar eleições, por outro, considero que o mesmo carisma não é sinónimo de competência. A viajar do carisma de José Sócrates para o de Costa e terminar no de Pedro Nuno, receio que será muito carisma e pouca competência, até à ruína final.
Infelizmente, pior que o candidato a primeiro-ministro é toda a segunda linha que assumirá pastas. Todos os jotas e jotinhas que irão ascender na hierarquia nobiliárquica socialista. Toda a ausência de quadros, de experiência e de vida fora do partido. É exatamente toda esta podridão que apoiam Álvaro, Francisco e Sérgio.
Álvaro Beleza, que tristeza. O mesmo que criticou ferozmente a situação do SNS e a política deste governo socialista para a habitação, sendo inclusivamente muito vocal contra o Programa Mais Habitação, é agora, ironicamente, apoiante do ministro mais radical do anterior executivo, corresponsável pela crise na habitação.
Sérgio Sousa Pinto, apoiante inequívoco de José Sócrates, junta-se igualmente ao rol de apoiantes de Pedro Nuno. A sua escolha de candidatos a primeiro-ministro faz dele conivente com toda a podridão que critica diariamente, num exercício verdadeiramente hipócrita.
Sérgio tem um comentário de opinião relevante, uma cultura acima da média e uma observação muito perspicaz do mundo que o rodeia. Um homem relativamente consensual que a esquerda idolatra, a direita respeita e o país moderado segue com atenção. Envolto numa aura de intangível integridade, Sérgio quase consegue o melhor de dois mundos: criticar e apoiar o mesmo e ao mesmo tempo.
Recentemente, o dirigente social-democrata Hugo Soares viu-se obrigado a interromper não um, mas dois momentos de comentário televisivo, pois as notas de rodapé eram claras manipulações de factos. A minha pergunta é: quem dá as indicações para estas notas? Serve a quem vilipendiar a oposição dando uma clara vantagem ao PS?
Parece-me óbvio que existe democracia em Portugal e que o PS não mente quando diz que os portugueses o escolhem para governar. Por outro lado, esta não é uma democracia plena quando os partidos não começam a campanha todos no mesmo ponto. Há um claro enviesamento que pende para o Partido Socialista. São anos e anos de promiscuidade entre o poder político exercido pelo PS e os órgãos de comunicação social, que agora dão frutos.
É triste ver tão pouca comunicação social verdadeiramente independente, principalmente nos meios televisivos — aqueles que têm maior e mais relevante alcance –, pois desbravam pelas casas dos portugueses sem impedimento. Triste ver tantas sondagens manipuladas. Triste ver o ISCTE a insistir na mesma fórmula ano após ano, qual bastião socialista sem independência, sem a mínima espinha vertebral, sem competência e sem pudor.
O povo será sempre soberano e a sua escolha definitiva, mas é de extrema importância que esteja informado para poder decidir em consciência e tal não acontece neste momento. Assistimos diariamente na comunicação social a uma “lavagem” de personalidades socialistas como se as bancarrotas tivessem sido culpa de quem não governou. Como se as 20 horas de espera por uma consulta de urgência fossem culpa de quem nunca teve responsabilidade. Como se os milhares de milhões gastos na TAP e na CP tivessem sido assinados por governos liberais, e não por governos socialistas.
É assustador ver como uma narrativa antiliberal de colagem do liberalismo à extrema-direita é consecutiva e repetidamente utilizada quando, na verdade, sempre que o nosso país se abriu à liberdade, a vida dos portugueses melhorou.
Se o povo realmente quiser continuar neste rumo, que assim seja. O que peço é que pelo menos esteja informado de que existem alternativas coerentes e não populistas. De que existe outro rumo. Outro caminho. Que o megafone não esteja sempre na mão dos mesmos. Se esse for o caso, deixamos de falar de informação, mas sim de pura endoutrinação.
A democracia envolve um povo crítico e uma oposição crítica. Envolve espaço para falar e criticar. Espaço para nos ouvirmos uns aos outros. Envolve honestidade, e não branqueamento factual.
O PS não é dono do país e não viverá sem contraditório, por muito que tente. Existirão sempre homens e mulheres livres, independentes e liberais, sem medo de pensar pela própria cabeça e de explanar aquilo em que acreditam. Esses, porém, não militam certamente no PS.
Empresário