“O silêncio deles é uma eloquente afirmação”
Cícero
Temos sido inundados com notícias sobre várias formas de corrupção, sejam elas em órgãos eleitos por todos nós seja, por exemplo, na TAP. Cresce a revolta nas redes sociais, tão típica dos portugueses, mas o que é certo é que, logo após ser tornado público o escândalo seguinte, rapidamente esquecemos o prévio.
Não obstante, o que se tem passado na TAP é demasiado grave para ser atirado para o sótão da memória assim que o próximo membro do Governo, autarca ou outro qualquer afecto a um dos partidos do arco do poder seja apanhado em ligações impróprias.
Há anos que leio críticas sobre os trabalhadores da TAP, sendo voz corrente que deveriam ser todos postos na rua.
Ora, muito provavelmente, aquando do despedimento colectivo, o Governo terá achado que poderia agradar a alguns e lançar uns milhares para o desemprego, sem contudo ter tratado de esclarecer aqueles que pugnaram por tal – e, já agora, também os que de tal discordaram – que não só as compensações seriam pagas por todos nós como também o respectivo Fundo de Desemprego.
Em 2020 saíram da TAP um total de 920 trabalhadores, tendo a empresa obtido apoios do Estado justamente para não despedir pessoas. No ano seguinte, 2021, viram cessado o seu contrato de trabalho mais 1.480 trabalhadores. Salvo as excepções agora conhecidas e outras que ainda falta conhecer, a todos os demais foi estabelecido um limite máximo de compensação que não era negociável e que era tabelado para todos. Da minha parte, sempre considerei que tinham abrangido as classes erradas e deixado na sede muita gente cuja permanência só se explica por conhecimentos pessoais, como se tem vindo a saber.
Volvidos uns meros meses sobre o despedimento dos últimos, eis que a empresa decide voltar a contratar para as mesmas exactas categorias dos que fez cessar o contrato. Pelo meio, e enquanto maltratava aqueles que cumprem o que é essencial para uma companhia aérea, ou seja, fazê-la ter clientes e voar, fez contratações luxuosas para cargos directivos, num dos quais rapidamente conduzida a lugar de administração. E, em sentido contrário, promoveu, mentindo, a cessação de vínculos de outras pessoas, fosse Alexandra Reis, fosse Teresa Lopes, fossem ainda outros cuja identidade ainda não veio à baila, em condições excepcionais e vantajosas (para eles, claro).
Talvez por isso, e porque aprendi que os fins não justificam os meios, a canção que Christine Ourmières-Widener tentou trautear no Parlamento não me convenceu. Mais do que o que disse, a mim interessa-me o que optou por calar. E, com a sua conduta omissiva, quanto a mim fica esclarecido que a TAP se converteu em definitivo numa grupeta de amigos a brincarem ao mata com dinheiro público, fazendo dos que ali trabalham as suas vítimas.