O que podemos concluir da COP até agora? Não muito, certamente, mas o suficiente para que este texto possa ser escrito. Eis o porquê.
A política é como o teatro. Qualquer movimento, por mais pequeno que seja, será escrutinado e analisado por atores e não-atores (o trocadilho é acidental). Assim sendo, podemos tirar algumas conclusões do evento pelo clima até agora.
Em primeiro lugar, é absolutamente vergonhoso que a COP, cuja maior luta é a transição energética e o afastamento dos combustíveis fósseis, seja organizada no Azerbaijão, país cuja economia é largamente dependente do petróleo e gás natural. Mais ainda quando a tendência de descarbonização da sua economia – como várias outras por este mundo fora – se revele francamente insuficiente, ora por falta de alternativa ora por falta de vontade política das elites abastadas.
Tudo isto faz desta COP o equivalente a organizar uma conferência de Direitos Humanos na Coreia do Norte. Ou, não precisamos de ir tão longe, no próprio Azerbaijão, que beneficia da publicidade positiva.
Em segundo lugar, a falta de carácter vinculativo das medidas e demais deliberações das conferências torna a COP num evento oco, um asterisco ao invés de um capítulo da história mundial. Sem qualquer tipo de benefício imediato sem ser a nossa própria sobrevivência – benefício este que tem sido largamente ignorado – e sem ter competências para tal, a COP pouco ou nada faz para se certificar que os seus compromissos são honrados. Quando deixamos as matérias à discrição dos Estados, eles farão por eles próprios, não pelos seus vizinhos.
Em segundo lugar e meio, já que o carácter vinculativo não se verifica, esperar-se-ia um mínimo de rasgo audaz, ao invés da desmedida moderação que só poderia vir da clausura jurídica. Sabemos de antemão que apenas uma ínfima parte do discutido será aplicado. Nesse caso, não valerá então a pena almejar mais alto para que o impacto absoluto seja maior, como quem pede uma bateria pelo Natal quando o que realmente deseja é uma flauta de bisel? A hipocrisia será maior, mas o impacto também. Falar de moderação em circunstâncias destas é esperar menos que o mínimo para o nosso futuro.
Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais