No final percebemos que os iniciais minutos de Luís Montenegro em silêncio seriam o melhor do seu discurso na rentrée do PSD. Faltou a tão prometida mudança que a AD apregoou na campanha.

Luís Montenegro repetiu por diversas vezes as palavras estratégica e estrutural, porque sabe que são precisas reformas estruturais e estratégicas que possam melhorar a vida dos portugueses, mas depois mostrou não ter coragem para as implementar. Percebe-se porque é que diz que não é liberal.

Se fechássemos os olhos poderia ter sido um discurso de António Costa a distribuir cheques e passes para ganhar votos e calar o descontentamento. Distribuir cheques de um sistema de pensões que está à beira da rutura e que não garante a reforma dos nossos filhos e netos; e dar passes para comboios datados, que tantas e tantas vezes deixam as pessoas apeadas, por causa das sucessivas greves. Nem imagino a euforia dos Viseenses que moram numa das maiores cidades europeias, sem acesso aos caminhos de ferro, a diferença que aquele passe vai fazer.

Do pouco que foi apresentado, destaco a saúde onde Luís Montenegro estava visivelmente agradado com o seu Plano de Emergência. A revolução no apoio às grávidas é, pasme-se, a criação de uma linha de telefone específica, para onde uma mãe deverá telefonar quando sentir as primeiras contrações para saber onde se deve dirigir e assim “não baterem com o nariz na porta” (palavras do primeiro-ministro).

Como os encerramentos vão variando, o detalhe das primeiras contrações é muito importante, porque um hospital que possa estar a funcionar esta semana, poderá estar encerrado na próxima. Atualmente uma mãe portuguesa terá de manter a calma e controlar a respiração, muitas vezes acalmar o marido, se tiver outros filhos organizar a logística e telefonar a quem ficou de tomar conta deles, levar a mala para a maternidade e fazer a dita chamada que lhe dirá para onde se deve dirigir. Se tiver sorte pode não ser longe de casa e com imensa sorte até poderá ser no hospital onde tem sido seguida.

Ora, enquanto não há uma reforma séria e duradoura do sistema nacional de saúde que evite estes sucessivos Planos de Emergência Nacionais, não faria mais sentido o funcionamento das urgências de obstetrícia estarem concentrados em polos hospitalares fixos, devidamente identificados, para acabar com estas constantes mudanças do abre e fecha, evitando este clima de insegurança que afeta as famílias?

Adiante…

Orgulhoso, o Primeiro-ministro, continuou o seu discurso destacando que desde o dia 1 de junho esta linha telefónica tinha recebido 20.895 chamadas de mulheres grávidas, ou seja, mulheres que não sabem onde podem ser atendidas. As tais que estão a tentar evitar “bater com o nariz na porta”. Destas, 69.5% tinham sido conduzidas para a urgência mais perto do seu local de residência.

Portugal é governado sob Planos de Emergência constantes, em que o culminar do falhanço atinge o seu expoente máximo quando os nossos governantes anunciam um site, uma App ou uma linha telefónica qualquer que orienta os portugueses pelos caminhos tortuosos do que está sempre a falhar, seja nos comboios, nos encerramentos dos hospitais, nas Lojas de cidadão, na AIMA, nos encerramentos das escolas e recentemente até o acesso ao Metro de Lisboa tem essa funcionalidade: Consultar o site para ver se os elevadores estão a funcionar ou se estão avariados.

Estes guias da incompetência são cada vez mais transversais, são anunciados com pompa e circunstância (agora até pelo Primeiro-Ministro) e compartimentam cada vez mais as pessoas: Na saúde, quem pode paga e vai ter o seu filho no hospital que quiser; quem não pode resigna-se e no meio das contrações, telefona para saber que hospital (de preferência público) está aberto.

Num momento de enorme ansiedade para qualquer mulher, só alguém muito alienado da realidade poderá achar normal que sujeitar as mulheres a todo um cenário de incerteza é aceitável. Não é. Isto é um ato de violência obstétrica completamente gratuito.

A oferta de saúde que temos instalada no nosso país, seja ela pública, privada ou social tem de estar ao dispor de todos os portugueses. Todos, todos, todos.