A verdade é como o sol. Faz bem desde que não queime

(ditado Siciliano)

 

Terminou, há pouco tempo, a última temporada (T2) de uma série televisiva (no AXN Portugal) que acho bastante interessante. Até pelo facto tão singular de em todos os episódios conter ensinamentos tão verosímeis e poderosos, cheios de significado. São autênticas lições (24 no total: 12 em cada temporada), que reproduzirei/transcreverei de seguida (parte delas), do que fui absorvendo e bebendo dessas palavras ricas de vida, de sabor, de sentido, de emoções, de muita cor. E que nos vêm, precisamente, de Viola come il mare (Violeta como o mar), novela italiana filmada em Palermo (Sicília), desde 2022 até ao presente ano. Lições que ensinam e perduram, lições para aprendermos a ser melhores seres…

O preconceito é como um véu que nos impede de ver a realidade como ela é; ou como uma parede invisível que nos divide e separa da realidade. E dos seus escombros algo de bom pode sair. Ora a liberdade não está em fugir, mas em enfrentar os nossos medos (e erros), em combatê-los.

Dizem que os erros ensinam mais que os sucessos, porque ensinam o que é a dor. Os erros ensinam o que é a saudade. Ensinam que não somos infalíveis. Somos vulneráveis, imperfeitos, errados. São os nossos erros que nos dizem quem somos e o que desejamos. Mas se errar é inevitável, poderemos mesmo corrigir os nossos erros? Erramos quando seguimos um sonho que não é realmente nosso. Erramos quando esperamos demasiado. Ou quando não temos coragem de escutar os nossos sentimentos. As nossas paixões. Também há erros que se escondem muito bem. Há erros que, quando se descobrem, indicam um novo caminho. O problema não é errar. O maior erro é não tentar corrigir. Mas para certos erros não existe remédio.

“Pensei que não me deixar envolver pelas emoções dos outros fosse a única maneira de sobreviver. E enganei-me. Porque a vida é encontro. A vida é caminharmos juntos. A vida é abrir o próprio coração e ouvir os outros. Porque nenhum de nós é uma ilha. E as pessoas são a nossa arma mais potente. Porque com as pessoas podemos partilhar tudo. Até a nossa maior dor, que se torna mais leve e que talvez venha um dia a ser útil para outra pessoa. Porque só quando abrimos a porta e deixamos entrar os outros é que deixamos de sobreviver e começamos a viver. E viver a dois é ainda mais bonito. A vida é um mistério. Está cheia de cores por descobrir, de sentimentos por conhecer.”

Por vezes, há que olhar para a nossa dor mais profunda e tentar corrigi-la, para seguir em frente. Olhar para dentro custa, mas é o primeiro passo para voltar a viver. Mesmo que de início isso pareça impossível.

A vida é como boiar no mar, em que podemos sentir a leveza do corpo e do respirar, olhar para o céu e o sol contemplar. Mas ficar apenas a boiar é perigoso: podemos deixar-nos arrastar pela corrente. Melhor mesmo é mergulhar: é preciso descer na profundidade dos sentimentos. É preciso ir para lá das aparências. Porque só se formos ao fundo é que vamos encontrar a beleza, o amor, a verdade. Portanto, melhor mesmo é mergulhar, pois aí sentir-nos-emos vivos e sentiremos a vida ao vislumbrar os peixes, outros seres subaquáticos, os corais, etc. Aquilo que não é vida é que acaba por boiar: uma rolha de cortiça, uma garrafa de plástico, um pequeno peixe morto…

Sempre que saímos de casa colocamos uma máscara. Aquela que queremos mostrar ao mundo para nos sentirmos mais fortes e belos. Uma máscara para esconder os nossos segredos e medos. Mas basta mesmo usar uma máscara para sermos diferentes? E quantas máscaras temos de usar para esconder o que queremos? Quem queremos ser de verdade? O problema é que mudar muitas vezes de máscara pode ser perigoso. Porque corremos o risco de não nos reconhecermos mais. E de nos perdermos para sempre. Muitos parecem o que não são, mas a máscara acaba por cair. Temos medo de revelar aos outros que por trás da armadura mais dura estão as nossas maravilhosas fragilidades, as nossas feridas. Tirar a máscara é o primeiro passo para ser feliz.

Existem vários tipos de desejos. Aqueles com que todos concordam, como o desejo da verdade. E existem desejos que nascem de repente, que nem pensávamos ter. Desejos que nos dão medo, que não achamos certo para nós. Mas existirão mesmo desejos certos e desejos errados? Quem é que decide o que devemos desejar? O que é melhor para nós? Se existem, é preciso escolhê-los com cuidado. Podem ter sempre consequências, para os outros ou para nós. A vida não tem sentido se não tivermos coragem para realizar os nossos desejos. Ninguém pode decidir por nós. Por isso, façamo-lo nós! Há desejos que nos fazem felizes, que só nós podemos perceber. Infelizmente, não basta perceber o que desejamos para que os nossos desejos se realizem. Às vezes, acontece alguma coisa que nos impede de realizá-los. Outras vezes, não temos tempo.

Há pessoas que de fora parecem invencíveis, mas talvez sejam apenas álibis que escondem as suas fragilidades. Os seus verdadeiros sentimentos. E o mínimo que podemos fazer é deixar de julgar à pressa. E tentar olhar para lá da primeira impressão. Para lá das nossas opiniões. Porque só assim descobriremos quem temos ao nosso lado. Pode ser um monstro ou pode ser um herói. Um herói sem capa nem superpoderes. Quer tenham sido eles a enganar-nos ou nós que não os percebemos, uma coisa é certa: mais tarde ou mais cedo as pessoas revelam quem são. Então, quando as pessoas mostram realmente quem são, tudo muda para sempre.

Como uma boia, nós gostamos de saber que há um limite, uma fronteira, para nos sentirmos protegidos até ela – dentro desse limite e fronteira –, sem saber o perigo que nos espera para lá dela. Mas há que ir mais além. Colocamos limites a nós mesmos na vida, fronteiras, e à nossa zona de conforto. Fazem-nos sentir protegidos porque talvez tenhamos medo. Mas se não vamos além, além dos nossos limites, dos nossos medos, se não tentarmos, se não lutarmos, nunca saberemos o que podemos fazer. E aquilo que pode ser. Há a coragem de ir mais além e a coragem de saber parar. Para perceber quem somos mesmo e de que precisamos. Depois há a coragem de voltar atrás, quando percebemos que aquilo que deixamos não era um limite, mas uma oportunidade. Mas se percebermos tarde demais, o limite torna-se porta fechada. Intransponível. Resignarmo-nos não adianta, é preciso reagir e lutar para perceber como podemos ser felizes. Reagir, lutar, esperar, para descobrir que depois da linha até pode estar o escuro. Um escuro ao qual, às vezes, não é possível voltar.

Como disse um filósofo, “cada erro mostra-nos o caminho a evitar. Mas nem todas as descobertas nos mostram um caminho a seguir”. Talvez porque algumas descobertas são avalanchas que mudam tudo, cobrindo caminhos que já conhecemos. E então sentimo-nos perdidos, numa vida que ainda é nossa, mas que já não se parece com ela. E gostaríamos de voltar atrás, quando tudo estava no sítio anterior. Quando pensávamos saber tudo. Mas se pudéssemos evitar a avalanche será que o faríamos mesmo?

Colocar tudo como era por termos medo de não estarmos prontos para mudar. Ou arriscar completamente sem medo de arriscar tudo. Algumas descobertas levam-nos a fazer coisas extraordinárias. Já outras descobertas ferem-nos, magoam-nos. E então temos de escolher. Deixar-nos arrastar ou agarrarmo-nos àquilo que podemos alcançar. Um amigo, uma pessoa querida, um pai. Mas a maior prova de amor é mesmo esta, o sacrifício. É que certas avalanches são apenas nossas e temos de enfrentá-las sozinhos!