Seremos só nós que estamos ao comando quando navegamos no universo das compras online? Serão os nossos desejos que dão origem ao clique? Ou estaremos a ser “auxiliados” na tarefa de satisfazer tanto as nossas necessidades como as nossas extravagâncias?

Vivemos atualmente um momento de grandes mudanças. E de um ainda maior esforço de adaptação. A inteligência artificial (IA) continua sem regulamentação e sem regulação, por isso cabe a cada um a decisão quanto à entrada neste “admirável mundo novo”. Assim mesmo, como foi escrito e descrito por Aldous Huxley há mais de 80 anos (1932).

O mais recente estudo do Observador Cetelem sobre o tema mostra que a maioria dos portugueses estão relutantes quanto à partilha de dados com a inteligência artificial, ainda que esta lhes possa simplificar algumas tarefas. Porém, 80% dos inquiridos admitem fornecer dados, informações e conhecimentos particulares a marcas e lojas, embora não o façam sempre.

A questão é que, sendo o consumidor português muito ativo no mundo virtual, nomeadamente ao nível das compras online, muito provavelmente já contactou com aquelas que foram as primeiras formas de inteligência artificial, aplicadas ao dia-a-dia dos cidadãos. Todos conhecemos ou ouvimos falar nos “algoritmos” das redes sociais, que são nada mais nada menos que as mesmas ferramentas que trazem aos nossos pequenos monitores as pesquisas mais recentes que fizemos, atendendo aos critérios associados ao que fomos mostrando serem as nossas preferências. Ou seja, as portas que se nos abrem diante dos olhos são aquelas por onde, em algum momento e através de um clique, nós transmitimos informações pessoais, que irão influenciar, de alguma forma, aquilo que compraremos no futuro.

Apesar de os consumidores estarem tendencialmente recetivos à mudança, existe ainda o receio em relação ao poder da IA e várias são as teorias, algumas delas pessimistas, de como a visão computacional irá interferir na sociedade. Por isso, não é de estranhar que 75% temam que os dados recolhidos pela IA possam ter má utilização e são poucos os que consideram existirem vantagens no recurso a estas tecnologias (28%).

Esta desconfiança acontece sempre que nos deparamos com algo desconhecido mas, como muitos “previram”, as novas tecnologias estão aqui para ficar. Poderemos ser capazes de escrever uma história diferente, em que os benefícios possam ser bem superiores às desvantagens. Saibamos, para tal e enquanto sociedade, ter sempre em consideração que o objetivo terá de passar por defender o consumidor e os seus direitos.

João Paulo Gonçalves, customer experience & B2C director do Cetelem – BNP Paribas Personal Finance