No rescaldo das segundas maiores eleições do Mundo (apenas suplantadas pelas da Índia, curiosamente também recentes) e onde estavam em condições de votar mais de 360 milhões de pessoas, as europeias demonstraram, em síntese, um reforço do PPE (centro-direita), em paralelo com o dos dois blocos partidários à sua direita, conjugado com uma queda de todos (sem exceção) os partidos de esquerda.

Com duas guerras em simultâneo bem perto das fronteiras da União e em plena crise migratória, uma viragem à direita, ainda que os mais catastróficos cenários não se tenham confirmado, deverá levar a esquerda (toda ela) a refletir sobre protagonistas, políticas e prioridades, bem longe das do cidadão comum, está bom de ver.

Por cá, uma salutar queda da abstenção, em grande medida provocada pela implementação (já não era sem tempo) de medidas simplificadoras do exercício do direito de voto, e escassos três meses passados de eleições legislativas, demonstraram-nos que os cidadãos, coletivamente falando, nunca se enganam e sabem bem distinguir partidos e os seus candidatos.

Uma lição para o futuro.

Dado o recente frenesim eleitoral no nosso País, com eleições legislativas antecipadas, duas eleições regionais na Madeira e umas nos Açores (tudo em menos de um ano), não é verdadeiramente justo comparar este resultado com o das últimas europeias num já “longínquo” ano de 2019, com outro quadro político-partidário, mas sim com o fechar de um frenético ciclo eleitoral.

Com uma subida, em contraciclo com os seus congéneres europeus, do voto no “centrão político”, os portugueses demonstraram, ainda e mais uma vez, a sua forte cultura democrática, ao contrário do apregoado pela habitual “bolha mediática”.

Obtendo uma autêntica “vitória de pirro” Pedro Nuno Santos e o PS inverteram um ciclo de quatro derrotas seguidas, é certo, contudo, deverão perceber que o sinal do povo é o da estabilidade e não da imprudência, do apelo a convergências e não a maiorias negativas, e, fundamentalmente, de que não estão cansados de um governo que ainda mal começou a governar.

Não vencendo, como aconteceu há escassos três meses, a AD tem como principais consolos os sinais de que, por um lado, a “sangria” de votos à direita poderá ser estancada, mais não seja por uma moderada e forte IL, mas, mais importante que tudo, na Europa (como cá) a esquerda (no seu todo considerada) continua a inevitável trajetória descendente, rumo à irrelevância.

Em particular, os sempre demasiadamente “insuflados” mediaticamente – Livre e PAN – que não lograram qualquer representação parlamentar.

Lições (nas mais altas esferas) deveriam ser retiradas.

Ainda, IL e Chega, tão separadas que julgam ser mostraram que são partidos siameses, no sentido em que são (ou se tornaram) verdadeiramente partidos de um homem só. Fortes, eleitoralmente, apenas e só quando é esse o seu candidato, seja ele Cotrim ou Ventura.

Em suma, com este resultado, os portugueses demonstraram que pretendem estabilidade, dado o equilíbrio entre os dois maiores partidos, que não embarcam – futilmente – em aventuras, e, acima de tudo, que pretenderam concretizar um apelo ao “juízo” dos dirigentes dos principais partidos em vésperas de um decisivo “embate orçamental” no próximo Outono.