Quem ouvir Pedro Nuno Santos a falar não percebe em que situação está o país. Não porque o secretário-geral do PS ignora o tema, mas porque envereda por duas narrativas inversas: ora “agora é que é”, ora “está tudo bem”. As mentes mais desatentas poderão acusar-me de formular esta dicotomia por via falaciosa, criando um falso dilema: é claro que as duas únicas opções não são estar tudo mal ou estar tudo bem. É possível viver numa situação boa e almejar melhor, mas não sejamos ingénuos – o falso dilema não está a ser criado por mim.

O partido que se apresenta como alternativa a si mesmo diz-nos que agora é que é. O partido que se apresenta como continuidade do sucesso dos últimos oito anos diz-nos que está tudo bem.

Qual dos PS aparece em praça pública depende da circunstância. Se para fortalecer o seu caso, pergunta-se “Mas o que é que não funciona?”. Se para se desculpar, diz-nos que “não temos todos os problemas resolvidos” por causa da direita. A sorte do PS é que 0,5 arredonda para um: meias-verdades muitas vezes passam despercebidas e inquestionadas enquanto verdades absolutas. A isto chamo eu de “tecnicamente verdade, mas propositadamente enganador”.

Daí que se vanglorie de ter baixado a dívida pública portuguesa quando isso se deve maioritariamente à conjuntura económica marcada pela inflação.

Daí que se vanglorie do crescimento económico percentual acima da média europeia quando isso se deve à pequenez absoluta da nossa economia.

Daí que se vanglorie de ter dado lucro à CP, quando esse lucro de pouco mais de nove milhões de euros não teria sido possível sem uma transferência de mais de 100 milhões por parte do Estado Português.

Daí que se vanglorie de ter descongelado as carreiras aos professores quando foi precisamente o PS que as congelou.

O contexto importa para todos, menos para o Partido Socialista. Ao andar ali pelo meio, num limbo constante, cola-se onde der mais jeito. A sua defesa é a omissão e o seu ataque é a inverdade.

Felizmente para os portugueses, não precisamos de ouvir Pedro Nuno Santos para entender em que estado está o país. Infelizmente, sentimo-lo. Serviços hospitalares precários, forças de segurança e bombeiros em protesto, salários baixos, impostos altos, habitação inatingível – o mundano transformado em luxo. Que o digamos todos – todos, exceto Mário Centeno, antigo Ministro das Finanças, que sente que as dificuldades sociais e económicas na Europa são “exageradas”. Se o diz o Senhor Ministro, há de ser verdade. Certo?

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais