Marcelo Rebelo de Sousa, o comentador e uma das mentes mais brilhantes do País ficou outrora conhecido como criador de factos políticos.

São lendárias a sua perspicácia, astúcia e capacidade de “virar o tabuleiro político”.

Ninguém melhor que ele, no Portugal democrático, conseguiu (e consegue) entender o povo português, suas forças, fraquezas e subtilezas.

Mas será que perdeu o jeito?

Na sua ânsia de tão bem ficar com “Deus e com o Diabo”, num recente jantar com jornalistas estrangeiros, dissertou, classificando ao seu melhor estilo professoral, sobre antigo e novel primeiros-ministros, claro está com preponderância do próprio, seu verdadeiro objetivo, em detrimento de “políticos menores” e mais lentos na decisão.

Independentemente da graça, indignação, concordância ou discordância que possamos ter relativamente às suas argutas análises pessoais, está claro que não se espera – muito menos em público e perante profissionais de imprensa estrangeiros – que o Presidente da República se preste a esse desiderato.

Mas será que não terá sido propositado?

Adicionalmente, e sem qualquer razão aparente, o “Presidente dos afetos” (e insigne Professor de Direito) entrou pelo pantanoso (até juridicamente) caminho das compensações nacionais pelo passado colonial.

Será que o católico fervoroso, o conservador que vem da “esquerda da direita”, filho de um dos últimos Governadores de Moçambique e ilustre Ministro do Ultramar de Marcello Caetano, manifestou algum sentimento de culpa pessoal?

Ou, em alternativa, quis ficar bem com a sua audiência lusófona e maioritariamente de esquerda?

Nada disso.

Foi simplesmente Marcelo a ser Marcelo, lançando – entupindo até – no espaço público uma grande polémica para dela sair ileso, colocando o “País” – da esquerda à direita – durante semanas a discutir o assunto evitando assim outro tipo de temáticas mais melindrosas, até para o próprio.

Sendo a crítica generalizada – e bem, ainda para mais vindo de um Presidente da República – logo André Ventura, na sua ânsia mediática “subiu a fasquia” e apontou para um ilícito criminal, traição à pátria, ainda mais difícil de enquadrar.

Sinais dos tempos, mas, fundamentalmente, do estado de espírito de alguns dos protagonistas políticos nacionais.