Escrevo este texto no dia Internacional da Mulher, menos de 24 horas depois de ter lido um artigo de opinião que me chegou, visando-me no título. Uma prosa medíocre, vai buscar uma afirmação minha, proferida há dois anos, e distorce-a, com intuitos políticos. Obviamente, sabendo que este meu texto estará a circular em dia de reflexão, não irei fazer qualquer referência a partidos. Sublinho, no entanto, a misoginia que ainda se vê na sociedade portuguesa e de que esse artigo é exemplo.

Os ataques subreptícios ou diretamente inflamados a todas as mulheres que dizem o que pensam, fazem o que querem e, principalmente, quando aquilo que dizem e fazem não corresponde ao que alguns homens consideram ser o pensamento “correto”. Ou seja, vai de encontro – e não ao encontro – ao que eles próprios defendem. Não é só a questão de ser uma opinião diferente; é o facto de ser proferida por uma mulher. Porque se outros homens tecem considerações semelhantes, são vistos como pensadores oponentes; se for alguém do sexo feminino, aí dá direito a distorcer e colocar a ideia como sendo falaciosa ou desprovida de fundamento. Ou, vá, com alguma intenção básica. Dever-se-à ridicularizar porque não é merecedora de consideração.

Um dos elementos que os antigos egípcios consideravam como fazendo parte da totalidade de um ser, uma das partes constituintes de uma pessoa era, exatamente, o nome dela. Quase como se o nome fosse a pessoa – daí que, quando um faraó era perseguido, martelava-se o seu nome em todas as inscrições. Ainda hoje, quando algum ente querido morre, dizer o seu nome é, para muitos de nós, mantê-lo vivo na memória.

Ora, esta personagem, que usou o meu nome como um sinónimo de uma ação política, é daquelas pessoas de que eu nunca tinha ouvido falar. E cujo nome não consigo reter, confesso. Percebi apenas que é do sexo masculino e que defende ideais políticos contrários ao meu. Por isso, à falta de melhor palavra, é o Coiso. Porém, o Coiso ataca-me com a ideia de superioridade moral que alguns dessa franja política acham que possuem, indo mais além; coloca-me no mesmo grupo de uma outra mulher, agredindo-nos com o complexo machista de quem conhece a realidade melhor do que essas mediáticas criaturas – numa referência meteórica, em contraponto com a sua ideologia, que é sólida e necessária. Como se tal fosse comparável.

O debate político e o respeito pela opinião contrária ainda têm um longo caminho a percorrer em Portugal. Mas o caminho do respeito pelas mulheres como seres com opinião própria e donas da sua voz (por incrível que pareça, em pleno ano de 2024) ainda tem muito chão que trilhar. Porque há sempre um Coiso que nos queira calar. Ou manipular.

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 9 de março.