Non-playing character (sigla NPC), é a designação para aquelas personagens dos jogos de computador que estão presentes na história do jogo mas são meros figurantes, sobre as quais não há controlo. Na prática, podem ser equivalentes àquelas pessoas que conhecemos mas das quais nunca nos lembramos.

Os temas agrícolas e florestais foram os NPC dos 28 debates televisivos, entre os diferentes líderes dos partidos com assento parlamentar, que decorreram entre 5 e 19 de fevereiro. E foram temas esquecidos apesar de, ainda no início de fevereiro, os agricultores se terem manifestado de forma tão mediática. Enquanto “membro” do sector, só posso lamentar este esquecimento.

Pedro Nuno Santos, apesar de querer “Portugal Inteiro” e de referir 50 vezes as palavras “Agricultura”, “Agroflorestal” e “Floresta” no seu programa, falou zero vezes deste tema nos sete debates em que participou.

Luís Montenegro, que lidera uma “Mudança Segura” e que mobilizou para as listas da Aliança Democrática (AD), Eduardo Oliveira e Sousa, ex-Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal e profundo conhecedor do sector, refere 53 vezes as palavras “Agricultura”, “Agroflorestal” e “Floresta” no seu programa, mas referiu zero vezes este tema nos 255 minutos dos debates em que participou.

No caso de Luís Montenegro, e no debate com Pedro Nuno Santos, teria sido um tema em que “ganharia pontos” de forma fácil. O “saldo sectorial” dos últimos anos de governação socialista é fraco, marcado por forte contestação de todas as confederações e de ausência de peso político na afirmação pública do sector.

Bem sei que os temas dos debates são marcados pela gestão jornalística dos mesmos, mas poderia ter sido metida esta “facada”.

É verdade que não somos um tema sexy para os jornalistas generalistas. Isso mesmo ficou bem evidente no passado domingo, 18 de fevereiro, em Santarém, no Encontro Nacional dos Agricultores e do Mundo Rural, organizado pela AD e que contou com a presença dos líderes dos dois principais partidos da coligação e dos principais líderes associativos sectoriais, e que teve forte mobilização sectorial. As peças jornalísticas que passaram foram apenas as perguntas feitas a Luís Montenegro para comentar afirmações feitas por António Costa.

Alguma pergunta sobre o sector? Zero!

De qualquer forma, parece-me inevitável – ou talvez seja apenas uma esperança – que o sector vai voltar a ter um peso reforçado no futuro governo que resulte destas eleições. Há o compromisso, quer do PS quer da AD, de voltar a juntar a Agricultura e as Florestas na mesma pasta ministerial e, fruto da contestação nacional e europeia, considero que a opção deverá recair sobre uma personalidade com forte preparação técnica, capaz de pacificar o sector internamente e de defender os interesses nacionais numa importante discussão europeia sobre o futuro da Política Agrícola Comum.

A agricultura e a floresta representam 95% do território nacional (somando as áreas de matos e incultos). Estes sectores, incluindo a agroindústria e as indústrias de base florestal, representam 5,2% do PIB português, mais de 15% do emprego e contribuem com 13% das exportações nacionais. Não devia ser necessário “pedir” para serem falados. Deviam ser temas abordados por todos os partidos que querem ter responsabilidades no governo de Portugal. Deviam ser temas importantes para discutir e debater sobre o que pensamos do futuro coletivo do país.

Não gosto, nem nunca gostei, de dizer que a culpa é dos outros. Não. Acho mesmo que a culpa deste esquecimento, de sermos NPC para parte da sociedade, é nossa.

Em tempos, houve um anúncio de uma marca de laticínios que levava o lema “Se eu não gostar de mim, quem gostará?”. Foi uma campanha criada para transmitir uma atitude positiva e contemporânea, associada a valores de independência, autoconfiança e sucesso. É disso que precisamos no sector.

Temos de mostrar, com orgulho, o que valemos. Temos de valorizar, de forma pró-ativa, o que fazemos.

Se queremos deixar de ser meros figurantes, temos de ser nós a querer fazer parte ativa do jogo.

Engenheiro agrónomo

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 24 de fevereiro