O adágio é conhecido: “A História repete-se sempre, pelo menos duas vezes”, disse Hegel. Karl Marx acrescentou: “A primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.” A conclusão do último parece-me errada, porque a tragédias se têm sempre acrescentado outras. A História repete-se, ponto final.

2022 lembra-me uma frase com que iniciei um romance frustrado: um início prometedor para um final deprimente. O que se vai guardar deste ano parece-me ser bastante diferente daquilo que, pessoalmente, procurarei deixar gravado no arquivo da minha memória.

É certo que foi um ano de quase celebração da ressaca da pandemia, pontuado por episódios caricatos de baixa política e uma euforia que rapidamente se transformou em depressão perante um anúncio e a constatação de nova (e mais grave) crise. Contudo, admitindo que o que de relevante se grave, em traços gerais, seja, a título principal, a subida da inflação e das taxas de juro, a guerra da Ucrânia e a bipolar prestação da nossa selecção no Mundial, o que me permito sublinhar é a reiterada incapacidade colectiva de, retendo as imagens, aprendermos, de facto, com os erros passados. Todos os problemas com que já nos deparámos – e vamos deparar com maior intensidade em 2023 – não são mais do que velhos obstáculos que já devíamos saber contornar.

Assim, mais do que imagens, sejam elas de felicidade ou de angústia, o que desejo que 2022 nos consiga fazer relembrar (e praticar!) a cada dia são as lições de humanismo e solidariedade que podemos – e devemos – sempre retirar dos momentos mais difíceis, principalmente quando se avizinha um novo ano que já sabemos ir ser muito duro. No limite, o que nos distingue como seres humanos não é a memória, mas a capacidade de sermos generosos e solidários quando nada temos a ganhar com isso.