As campanhas políticas já viram melhores dias. Ainda me recordo de se debater, mesmo com humor e elevação, os programas ou as incongruências dos adversários. Agora, vejo um partido falar de performances na cama em cartazes e o presidente de outro partido a apelar para se usar os símbolos nacionais para tapar as partes íntimas.

Julgo que a banalização e o desrespeito pelos mesmos são passíveis de punição, já que está previsto o crime de ultraje aos símbolos nacionais no Código Penal. Pelos vistos, André Ventura acha que o uso desses símbolos em roupa interior é uma demonstração patriótica; eu acho que é estúpida, de baixo nível e ultrajante. Mas isso sou eu, que tenho um nome estrangeiro.

Só que o baixo nível da campanha eleitoral não se fica apenas pela brejeirice. Lá vêm outra vez os selvagens da Climáximo: a vítima do arremesso de tinta verde foi, desta feita, Luís Montenegro. Já não vou falar das ligações que foram estabelecidas em alguma comunicação social entre estes vândalos e o BE: há quem veja nisto um ataque mais político (embora todos os partidos tenham vindo repudiar a ação). É mesmo a falta de nível, de discernimento e a gravidade de já se constituir um crime. Não é questão de eficácia, ou falta dela, como disse o Presidente da República, quase a desculpar os delinquentes. É mesmo a campanha estar resumida a casos bacocos, quando atravessamos um dos momentos mais críticos da vida política portuguesa em muitos anos.

Dos projetos, medidas, seus custos e implicações, ninguém fala. Como se precisassem de ficar alienados da realidade, porque se chegou a um ponto de saturação. Só que Portugal tem de mudar.

Professora universitária

Artigo publicado na edição do NOVO de sábado, dia 2 de março