O político que pouco se desviou no caminho das convicções
Soube recuar quando foi necessário, mas nunca desistiu das causas
Ana Sá Lopes mostra-nos alguém que nunca teve medo de seguir as suas convicções como elemento norteador da sua carreira política, mas que soube recuar quando foi necessário, sem nunca desistir das causas e do combate político – como foi o caso do casamento gay e da adoção por casais homossexuais.
Nascido e criado no PS, Pedro Nuno Santos é um político que sempre soube o que quis e que demonstrou ser paciente para atingir os seus objetivos – ele que esteve, desde o célebre congresso da Batalha, em 2018, a preparar-se para suceder a António Costa na liderança do PS. Fez o trabalho de formiga de preparar o seu caminho e soube esperar pela sua vez – como António Guterres, em 1991, e ao contrário de António Costa, em 2014.
Acérrimo defensor das suas ideias desde os almoços que não comia, na cantina da faculdade, Pedro Nuno Santos nunca teve medo de enfrentar quem discorda da sua ideia de um PS (ainda) mais à esquerda: António José Seguro, António Costa, Augusto Santos Silva… Francisco Assis sublinhou isso mesmo quando, ao fim de oito anos de exílio, entrou no Largo do Rato ao lado de Pedro Nuno Santos para o anúncio da candidatura a secretário-geral: apesar de terem estado em lados opostos no passado, são pessoas com opiniões conhecidas que não se escondiam na clandestinidade para subir no partido.
O líder a prazo que pode vir a ser primeiro-ministro
Demissão de Costa foi uma boia de salvação para Montenegro
A demissão de António Costa foi uma boia de salvação para Luís Montenegro, que tem um percurso cheio de erros e derrotas. Visto, dentro e fora do partido, como um líder a prazo, com data de validade a expirar nas europeias, surge agora com renovadas possibilidades de ser o próximo primeiro-ministro.
Miguel Santos Carrapatoso conta o percurso político de Montenegro desde que, aos 14 anos, se filiou no PSD: foi presidente da JSD/Espinho, liderou a bancada parlamentar durante os anos da troika e tentou derrubar Rui Rio, em 2019, depois de ter hesitado – e recusado – em suceder a Pedro Passos Coelho. Os jogos de poder são uma constante na vida interna do PSD e Luís Montenegro não lhes passou ao lado. Amigo de Luís Marques Mendes, trocou-o por Luís Filipe Menezes. Recusou fazer parte dos governos de Santana Lopes e Passos Coelho.
Antigo delfim de Passos, afastou-se para abraçar o neocavaquismo. Foi a suspeita de que Miguel Relvas tinha em marcha um plano para desgastá-lo que o levou a anunciar que seria recandidato a seguir às europeias, qualquer que fosse o resultado. Está convencido de que André Ventura não vai bloquear um governo do PSD em que não entre e que Passos Coelho não avança contra si mesmo que perca a 10 de março. E, apesar das críticas de Marcelo à ausência de oposição à direita, a relação entre os dois é mais próxima do que se possa imaginar.
O demagogo que já defendeu tudo e o seu contrário
Desprezado por Rio e ignorado por Montenegro, encontrou um nicho para crescer
André não nasceu Ventura, fez-se Ventura. Éo que nos explica Vítor Matos, que dá à estampa o que já antes dera a conhecer no podcast Entre Deus e o Diabo: como André se fez Ventura, isto é, a maneira oportunista como o líder do Chega foi criando o seu próprio caminho na política nacional: usar um discurso racista e xenófobo no mainstream político para criar uma força radical de direita semelhante às que já existiam na Europa (a família Le Pen, em França; Geert Wilders, nos Países Baixos; Matteo Salvini e Giorgia Meloni, em Itália; ou Santiago Abascal, em Espanha) e fora dela (Donald Trump, nos Estados Unidos; e Jair Bolsonaro, no Brasil).
Converteu-se e radicalizou-se numa igreja, defendeu a integração de imigrantes antes de inventar um estudo para atacar a comunidade cigana e ganhar notoriedade em Loures e no PSD. Desprezado por Rui Rio e ignorado por Luís Montenegro, deixou o partido para fundar o Chega. Encontrou um nicho político pouco recomendável e, nestes cinco anos, empunhou várias bandeiras do populismo radical europeu de direita: contra imigrantes, minorias, o marxismo cultural e a esquerda e a direita que não está consigo.
É esta duplicidade, ou multiplicidade, de posições que leva Ventura a confessar que não sabe “onde isto vai acabar” – sendo isto a situação de polarização e divisão para que todos os dias contribui.