Ainda esta semana, o PS partilhou no Twitter a mensagem “Quem viveu não esquece”. Mais ação parece significar mais do mesmo, em termos de comunicação política, e a cartada dos governos de Passos Coelho é querer comprar votos através do medo. Mas a estratégia não é eleitoral, é de sobrevivência.

Em setembro, dois meses antes da demissão de António Costa e em plena Academia Socialista, Eurico Brilhante Dias discursou exatamente nestes moldes. O PS comentou “Que a memória não nos falhe”, que “a direita sujeitou o país ao maior projeto de austeridade de que os portugueses têm memória”. É de uma lata inacreditável. Querem que nos lembremos de um governo que tomou posse há quase 13 anos e que esqueçamos quem governa ininterruptamente há mais de oito. Querem que nos esqueçamos que o governo com a maior carga fiscal de sempre no nosso país é o atual.

Se o PS quer que a memória não nos falhe, pergunto: quem se lembra de como era o sistema tributário antes das reformas dos governos de Cavaco Silva? Ou de quem fomentou o maior processo de construção de habitação pública em Portugal? Atendendo ao que aconteceu ontem a Luís Montenegro, qual foi o primeiro partido em Portugal com preocupações ecológicas e ambientais?

Há tanto por perguntar.

Respondendo ao senhor deputado Eurico Brilhante Dias, que de brilhante admitidamente pouco há de ter, pergunto também: se a carga fiscal foi elevada durante o período da troika e do resgate do FMI, quem criou as condições para que tal acontecesse? Quem teve de assinar o memorando? Quem foi o verdadeiro culpado? A memória não me falha quando digo que, nos quatro anos em que a batata quente caiu nas mãos de Pedro Passos Coelho, os culpados saíram ilesos e logo se reagruparam para recuperar, pelos meios necessários, o que haviam perdido.

Digo-o as vezes que forem necessárias: o PS é um cartel. Não existe separação entre as entidades do PS e o Estado português. A sua maior prioridade é a manutenção do aparato do Estado e do seu próprio poder. Repito: que lata inacreditável. Principalmente vindo de um partido cuja maior medida de combate à emigração é o mau funcionamento da TAP. Se, com oito anos de poder, não conseguiram implementar uma única reforma estrutural, então este não foi nunca o objetivo do PS.

Todos os partidos desejam ganhar eleições, claro, mas, para aplicar a vitória, há que saber pensar. O poder pressupõe um acordo entre eleitos e eleitores, em que, ao contrário do que se verifica, o eleito serve o eleitor. Ter os meios legítimos para agir e não o fazer não é só imoral: prejudica ativa e conscientemente a maioria pela minoria. Há quem perdoe, há quem esqueça. Eu escolho não fazer nenhum dos dois. Especificamente porque, senhor deputado Eurico Brilhante Dias, a memória não me falha.

Mestrando em Ciência Política e Relações Internacionais