O vice-presidente do Banco Europeu de Investimento Ricardo Mourinho Félix não antevê interrupções em projetos com verbas europeias, como o Plano de Recuperação e Resiliência, apesar da crise política em Portugal, destacando o funcionamento das instituições apesar “das vicissitudes”.

“Portugal tem uma democracia madura […] e tem instituições que, ao longo de 50 anos, se foram robustecendo e que são sólidas e, portanto, Portugal não é diferente de um conjunto de outros países da União Europeia com democracias maduras e em que, independentemente das contingências e das vicissitudes daquilo que é a vida normal dos países e das sociedades do ponto de vista político e social, seguem e continuam a levar a que as coisas funcionem”, disse Ricardo Mourinho Félix, em entrevista à agência Lusa.

Este contexto leva, de acordo com o responsável, “a que os projetos se façam e que não haja interrupções porque as instituições servem para isso mesmo, para que as coisas continuem a manter uma certa regularidade e normalidade, mesmo quando há alguns episódios, algumas vicissitudes, que levam a que haja decisões que o país tem que tomar”, adiantou o antigo secretário de Estado das Finanças.

Ricardo Mourinho Félix, que está prestes a terminar o seu mandato na vice-presidência do Banco Europeu de Investimento (BEI) dada a mudança da liderança, respondia a questões da Lusa sobre eventuais impactos da crise política na execução do PRR em Portugal.

Questionado sobre o seu futuro, após sair do BEI, o responsável disse esperar “regressar seguramente a Portugal e continuar a vida profissional”, mas escusou-se a comentar “sobre aquilo que serão futuros governos, num processo que está em curso”.

Certo é que decorrem de momento discussões, ao nível da União Europeia, sobre a futura liderança do BEI, à qual concorrem cinco candidatos, entre os quais a vice-presidente executiva da Comissão Europeia Margrethe Vestager e a vice-presidente do governo espanhol e ministra dos Assuntos Económicos, Nadia Calviño.

Como a Lusa avançou, Portugal apoia a candidatura de Nadia Calviño, cabendo agora aos ministros das Finanças da UE chegar a um consenso sobre um nome.

O atual presidente do BEI, Werner Hoyer, deixa o cargo no final do ano, pelo que os governantes têm até então de nomear um sucessor.

Nesta entrevista à Lusa, Ricardo Mourinho Félix relatou que “a instituição evoluiu ao longo destes últimos 12 anos” e, hoje, o banco da UE tem “uma relevância naquilo que é a política europeia que não tinha há 12 anos”, após ter apoiado a resposta à anterior crise financeira e à da covid-19 e por ter estabelecido prioridades ‘verdes’.

“Isso gerou um interesse grande sobre o trabalho da instituição”, daí estes candidatos serem altos funcionários europeus, apontou.

Já questionado sobre o processo de escolha de novo presidente da instituição, Ricardo Mourinho Félix afirmou ainda estar “convicto que [os acionistas] tomarão uma decisão em breve, de forma a que, no dia 01 de janeiro, o banco tenha um presidente”.

O BEI é o banco da UE e financia projetos que contribuam para os objetivos europeus, como ao nível da transição ecológica e energética, tanto dentro como fora do bloco comunitário.

Em 2022, o grupo BEI disponibilizou 72,5 mil milhões de euros em financiamento, 1,7 mil milhões dos quais para Portugal.

Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro, que é alvo de um inquérito no Ministério Público junto do Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo que investiga tráfico de influências no negócio de um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo tido intervenção para desbloquear procedimentos.