As autoridades russas afirmaram hoje que a troca de prisioneiros acordada com vários países ocidentais foi possível “graças à posição dura” de Vladimir Putin, que recusou que fosse apenas “uma libertação como sinal de boa vontade” de Moscovo.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que “o destino de todos os russos” detidos nos Estados Unidos continua a ser “uma preocupação constante” para o governo russo e recordou que foi o próprio Putin quem, no passado, afirmou que tais trocas não são propriamente gestos.
“Quando o nosso povo nos for devolvido, é nessa altura que podemos falar de trocas”, disse Peskov, segundo a agência noticiosa russa TASS. “Esta é a posição que produziu resultados, e agora o nosso povo regressou a casa”, afirmou.
Neste sentido, explicou, as negociações foram efetuadas principalmente entre os serviços de inteligência da Rússia e dos Estados Unidos, pelo que salientou que Joe Biden não interveio, enquanto aproveitou a oportunidade para agradecer à Bielorrússia pelo seu papel.
Alexander Lukashenko, presidente bielorrusso, disse que Biden não estava envolvido e acusou-o de tentar “marcar pontos” pelo que aconteceu.
“O presidente dos Estados Unidos não teve nada a ver com a organização da troca de prisioneiros entre a Rússia e os países ocidentais”, disse, antes de confirmar que Minsk se ofereceu para ajudar.
Na quinta-feira, 26 prisioneiros de sete países foram abrangidos por uma troca com a Rússia em Ancara, capital da Turquia, o país que coordenou o acordo. Dez pessoas foram transferidas para a Rússia, 13 para a Alemanha e três para os Estados Unidos.
Entretanto, a imprensa russa dá hoje conta de que esta troca de prisioneiros, a maior entre a Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria, foi realizada com tanto secretismo que os advogados de muitos prisioneiros russos desconheciam os planos das autoridades para os seus clientes.
“Ilya [Yashin] sempre teve a mesma posição: é um cidadão russo, um político russo e considera que o seu lugar é na sua terra natal. Ele não queria ser trocado”, disse o advogado de Yashin, Mikhail Biriukov, ao diário Kommersant. A figura da oposição russa, condenada a oito anos e meio de prisão por criticar a guerra na Ucrânia, foi uma das 24 pessoas trocadas na quinta-feira no âmbito de uma troca maciça entre a Rússia e o Ocidente.
De acordo com o advogado do político, a troca foi efetuada por “acordo ao mais alto nível”. “As listas não foram elaboradas por ativistas dos direitos humanos nem tiveram em conta a opinião das pessoas presas”, afirmou.
O advogado de Lilia Chanysheva, representante do líder da oposição Alexei Navalny, já falecido, na região russa de Bashkiria, revelou que a sua cliente não se opunha a uma troca, mas não queria deixar a Rússia, onde vivem os seus pais idosos.
O advogado da pintora russa Sasha Skochilenko, que foi condenada a sete anos de prisão por ter substituído os preços num supermercado russo por mensagens pacifistas, também afirmou que não tinha conhecimento dos preparativos para a troca.
“Foi abordado por uma mulher e foi-lhe pedido que pedisse o perdão por escrito. Tudo isto sem nós. Estas coisas não são feitas sem a defesa”, disse o advogado Yuri Novolodski.
Na sexta-feira, o Kremlin recusou-se a comentar a recusa de alguns prisioneiros em serem trocados.
O FSB, antigo KGB, confirmou na quinta-feira a libertação dos oito russos presos em países da NATO em troca de 15 russos e estrangeiros que cumprem penas em prisões russas e de um cidadão alemão condenado à morte na Bielorrússia.